Já sentiste um vazio que se instala e que toma conta do estômago e do coração?
A vontade de nutrir e ser nutrida esgota-se, por vezes, a cuidar das plantas no silêncio do lar. É ali, da mesma forma que retiras o pó e cortas o que já não tem vida, que desejas fazer o mesmo com a tua vida. Não é fácil podar e eliminar o que já não faz sentido. Mas… que sentido faz manter o que já não respira? É neste espaço que residem as expectativas… uma espécie de placebo que nos faz acreditar que, se continuarmos a tomar, alguma coisa pode melhorar.
Expectativa tem origem no latim expectare,, que significa “olhar para fora”. Talvez resida aqui uma resposta. “Olhar para fora” está longe de ser a solução. Quanto nos perdemos na vida por olharmos para fora? À espera que nos dêem o que precisamos e não sabemos dar a nós próprios. ..ávidos por receber. E quando recebemos, ficamos extasiados, por pouco tempo que seja. O amor…ah o amor…o amor vem de dentro. A expectativa vem de fora!
Quando o amor morre, a expectativa continua viva, à espera de um sinal. Acordar e procurar sinais continua a ser sinónimo de carência, de pouco amor próprio.
Ah o amor…se o verdadeiro amor dá trabalho, amarmo-nos a nós mesmos dá muito mais. Limpar o pó que se instala e que por vezes nos faz duvidar de nós próprios. Curar e limpar “pragas” e mazelas que se instalam, implica um trabalho minucioso de auto-cuidado. Importa olhar para a nossa planta, ou até mesmo para o nosso jardim interno e observar atentamente o seu crescimento. O que era e o que é hoje… importa olhar não só para as folhas que carecem de cuidado mas também para todas as outras que se desenvolveram e cresceram com vigor e sem marcas.
Observar o nosso jardim interno é ver com atenção tudo o que floriu, tudo o que ganhou espaço e se desenvolveu primeiro e, depois sim, cirurgicamente remover o que secou ou não se desenvolveu…remover com carinho.
E assim, entre podas, a vida vai-se revelando. Podemos aprender a não esperar, sem que isso nos cause desconforto. Podemos escolher focar a nossa atenção no que se mantém no nosso jardim interno. Se calhar o amor é sobre isso mesmo… nutrirmo-nos.
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