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Vila Nova de Famalicão
Quinta-feira, 25 Abril 2024
Dina Coelho
Residente na freguesia de Bairro, é filha de pais surdos e intérprete de língua gestual portuguesa (LGP). Exerce a profissão de intérprete de LGP desde 2015, em vários contextos, mas essencialmente no âmbito educativo. É coautora do livro Por Amor e mestre em gerontologia. Atualmente pertence aos órgãos sociais da Associação de Tradutores e Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (ATILGP) e da Associação de Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos (ASASM).

“Estamos livres das máscaras, mas continuamos a ser invisíveis”

Entrevista com Sara Serafim, 27 anos, natural de Vila Nova de Gaia e surda profunda bilateral desde o nascimento. É designer de joalharia e fundadora da sua própria marca de joalharia, a Hoyara Jewellery.

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Dina Coelho
Residente na freguesia de Bairro, é filha de pais surdos e intérprete de língua gestual portuguesa (LGP). Exerce a profissão de intérprete de LGP desde 2015, em vários contextos, mas essencialmente no âmbito educativo. É coautora do livro Por Amor e mestre em gerontologia. Atualmente pertence aos órgãos sociais da Associação de Tradutores e Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (ATILGP) e da Associação de Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos (ASASM).

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NOTÍCIAS DE FAMALICÃO (NF) – Como foi o seu percurso educativo?

SARA SERAFIM (SS) – Eu nasci surda profunda bilateral. Cresci com ouvintes e estudei em escolas de ouvintes, era a única surda em todas as escolas onde andei. Aprendi língua gestual portuguesa através da minha mãe quando tinha 2 anos. O facto de conviver com familiares ouvintes ajudou-me a não me focar apenas na língua gestual, o que me levou a esforçar para desenvolver a oralidade. Apesar da minha família e alguns amigos meus saberem falar língua gestual. No entanto, quando entrei na escola primária ainda não falava oralmente. A minha mãe era a minha intérprete – traduziu-me todas as aulas desde o ensino básico até ao nono ano.

Quando estava no 11.º ano, comecei a assumir a minha diferença. Fui-me libertando aos poucos e poucos, foi uma grande conquista para mim porque finalmente tinha ultrapassado aquele obstáculo.

Durante a faculdade, apesar de ter um intérprete em algumas cadeiras, a vida não foi fácil. A surdez tem a particularidade de ser invisível e embora os professores soubessem que não os podia ouvir, por vezes esqueciam-se. Senti-me perdida às vezes.

 

NF – Diariamente sentes obstáculos por ser surda? Se sim, quais e como ultrapassa?

SS – Muitas vezes passava por desinteressada. É muito duro para um surdo ter de estar sempre a lembrar аs pessoas que não podem falar de costas porque precisamos de fazer leitura labial e que, mesmo assim, muita coisa falha. É algo parecido com sentirmo-nos estrangeiros no nosso próprio país. Às vezes é complicado, mas tenho-me desembaraçado relativamente bem.

Ainda assim, a pandemia veio apresentar um novo obstáculo sem precedentes: o uso obrigatório de máscara. Não conseguia fazer leitura labial e era muito complicado. As pessoas com quem tenho de contactar, clientes e fornecedores, compreenderam isso e muitas vezes afastavam-se para poderem tirar a máscara, mas claro que em muitas situações isto se tornava uma prática perigosa. Seria tão mais fácil se todos pudéssemos usar máscaras transparentes. Agora felizmente já estamos livres das máscaras, mas continuamos a ser invisíveis, espero que isso melhore no futuro e que toda a gente nas escolas tenha possibilidade de aprender língua gestual portuguesa.

A mensagem que posso passar com a minha experiência é que todos os dias nos vamos deparar com novos problemas e nunca iremos saber o que a vida nos reserva, mas seja qual for o caso temos de ter força de vontade e acreditar em nós próprios, porque nada é impossível.

 

NF – Como nasceu a paixão pela joalharia?

SS – Eu comecei tirar o curso numa escola de joalharia no Porto, chamada Alquimia-Lab. Ao mesmo tempo estava a estudar na Faculdade de Arquitetura, em 2013. Em 2015,mudei para o curso de design de interiores na ESAD, em Matosinhos. No fim do curso design de interiores, estava na aula de Vitrinismo e a professora propôs-nos um trabalho sobre uma montra de qualquer marca, aí decidi aproveitar para criar uma marca minha de joalharia, que sempre quis, mas ainda não tinha tido coragem. Agora sou designer de joalharia e fundadora da minha própria marca de joalharia, a Hoyara. Trabalho na garagem que era do meu pai, aproveitei para usar o espaço.

 

NF – Como surgiu a Hoyara Jewellery?

SS – No verão de 2017, estive durante um mês no Algarve e visitava todos os dias a Praia da Coelha. Foi lá que me apaixonei pelo mar e por tudo o que o rodeia. Comecei a apanhar conchas e búzios e tive a ideia de lançar uma marca de joalharia que se focasse nas temáticas do oceano e nas texturas da natureza. A Hoyara Jewellery foi criada nesse mesmo ano, com um nome que resulta da junção entre a planta Hoya Carnosa e o meu primeiro nome — Sara.

 

NF – Qual é o seu sonho a nível profissional?

SS – O meu sonho a nível profissional é que a minha marca cresça muito e conseguir concretizar um projeto em que estou a trabalhar, mas que ainda é segredo.

 

NF – Onde podemos encontrar as suas peças de joalharia?

SS – Estão а venda através das redes sociais: Facebook, Instagram e website da marca. No entanto, também é possível fazer pedidos exclusivos e personalizados, feitos por encomenda e sob orçamento.

 

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