Para mim sempre foi uma enorme dificuldade saber comunicar ou expressar-me de uma forma coerente. Desde pequenina que vivo no meu particular mundo caótico. Já desde essa altura que era adepta do silêncio e da paz que advinha daí. Era aquela menina que ia à biblioteca alugar livros de 2 em 2 semanas, mas que, às vezes, em menos de uma semana conseguia terminar a leitura do livro.
Talvez o meu problema tenha sido esse mesmo: devorar a vida ao invés de apenas saborear cada um dos seus momentos. Mas mesmo assim, fui me perdendo durante horas e horas nas leituras porque esse universo literário sempre me fascinou e de algum modo, fazia-me escapar da realidade à minha volta e, às vezes, até dos meus próprios pensamentos desorganizados.
Hoje em dia, acredito que o amor cai assim na nossa vida e que por isso não o sabemos explicar, porque se trata de uma mistura louca de tanta coisa que no final, faz-nos entrar numa viagem alucinante onde só queremos descobrir mais e mais, assim como me acontecia nas minhas leituras.
Queremos devorar imediatamente o livro todo e ficamos sempre naquela ânsia de querer mais, tanto que, passa a ser pontual as idas constantes à biblioteca à busca da parte que ainda nos falta.
E foi aí que comecei a entender o que realmente amava, mesmo.
Muitas pessoas dizem que o amor é um lugar tranquilo, que dá calma e paz e onde há carinho, afeto e respeito mútuo.
Eu até concordo, em parte. O Amor é tudo isso e mais alguma coisa. É sempre difícil escrever sobre ele porque é algo relativo e dependendo de pessoa para pessoa, o que o move pode ser a coisa mais absurda ou a coisa mais bonita. Por isso talvez seja difícil o definir ou falar sobre ele em concreto, porque não se trata de uma verdade absoluta.
Acredito que se trata de se deixar levar pela sua influência, porque assim como a Poesia o Amor também está em cada canto da nossa vida.
Comecei a perceber que o Amor trata-se de um caos, mas de um caos bonito que nos acrescenta e ilumina. Que começa pela simples busca de algum livro nas prateleiras da biblioteca e que depois, levando e cuidando em nossa casa, quando damos por ela estamos a devorar cada página desse livro, porque é algo que nos emociona, cativa e que assim como um bom livro, temos essa ânsia de saber mais e de querer chegar ao fim da história para saber o que acontece. Por isso, talvez também nos cause frustração, medo e ansiedade, porque o amor não é todas essas cenas romantizadas que estamos acostumados a ler ou a ver em determinadas obras de arte.
Às vezes, a simples volta à biblioteca, com o tempo, começa a pesar, a ser rotineira e monótona, porque também nos podemos perder pelo caminho. Faz falta colocar o marcador de leitura na página que se está a ler e parar. Ficar a meio do caminho não é uma derrota e não é mau…
A vida obriga-nos, muitas das vezes, a parar para olhar para dentro de nós (e ao nosso redor) com mais clareza. O Amor não cansa. Ele só nos obriga a entender que, como tudo nesta vida, ele não é perfeito e nem sempre está tudo bem, e está tudo bem isso acontecer.
De alguma forma, quando voltamos à biblioteca iremos encontrar o que tanto queremos. Pois o Amor não bate à nossa porta e quando vem derruba paredes e muros, deixa confusão e caos, mas no meio da sua leitura faz-nos sentir confortáveis e fascinados.
O Amor é o motor da vida. A alavanca do coração. E a revolução que precisamos para nos encontrarmos onde nos perdemos.
E por vezes, é necessário parar a leitura e arejar a casa, abrir as janelas, cozinhar algo que gostamos ou até dançar e cantar bem alto ao som de qualquer música idiota. Porque o Amor esconde-se sempre no pó das prateleiras, e voltar a escolher um livro é o primeiro passo que precisamos para o encontrar.
Tenho aprendido com os anos que devemos aproveitar a inquietude das nossas constantes perguntas, uma vez que só surgirá a respetiva resposta quando estivermos preparados para a entender. Até lá temos que viver, errar e aprender. Com o tempo madurar e colher os frutos (não só os maduros, mas os podres, pois o seu sabor azedo também nos mostra como é de facto a vida).
E simplesmente não tentar entender à força toda o que existe para ser uma incógnita. Disso se trata o Amor: ter todas as perguntas e só ter uma resposta: o Amor.
Isto tudo para dizer que, hoje em dia já não alugo livros, mas continuo a voltar à biblioteca
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