Para além de outros fatores de incomensurável importância como sejam a saúde, as contingências pandémicas e obviamente a companhia, seja de amigos ou familiares, as férias são um período destinado a recuperar energias e que servem de estágio para um novo ano.
Neste, graças à covid-19, todos estarão de certeza com vontade, muita vontade, de espairecer, desanuviar, folgar, desentediar, divertir, flautear, desenfadar e seguramente desconfinar. Claro que sempre com as devidas precauções. Mesmo que haja alargamento das medidas, afinal o pico está cada vez mais um planalto, cada um que adote as suas regras de modo a se sentir mais seguro e confortável.
Para completar o naipe de aspetos que as podem tornar mais aprazíveis poder-se-ão elencar dois que as costumam tornar mais prazerosas e que, no momento, merecem alguma reflexão: o estado do tempo e a alimentação.
O estado do tempo, na nossa região e durante os meses de junho e julho, salvo raras exceções, esteve claramente pior do que é habitual. Felizmente não se observaram fenómenos meteorológicos extremos. Lembremo-nos das chuvas intensas, quase diluviais, no centro da Europa em contraste com a calor tórrido nos países escandinavos, tendo em conta exclusivamente o continente europeu.
Tais situações remetem-nos para uma reflexão sobre as alterações climáticas. O clima, sendo o conjunto de fenómenos meteorológicos que se fazem sentir num determinado local, num determinado espaço temporal, está a tornar-se numa “besta” indomável. O Homem deveria ser bem mais cauteloso a lidar com ele.
Depois de irritar a “besta” resta a tentativa de a acalmar. Esperemos que não seja vã.
Começam a ficar definidas algumas ações concretas a nível europeu e por defeito, a nível nacional. A subscrição pelos Estados Unidos da América do Acordo de Paris foi, no pós-Trump, o primeiro passo.
A descarbonização tem de entrar no léxico do comum dos cidadãos. Educar, sensibilizar e comunicar é imperioso. A mensagem tem de chegar às pessoas.
A descarbonização pode ser atingida de duas formas: reduzindo ou eliminando os gases com efeito de estufa que são lançados, e em excesso, para a atmosfera e/ou pela captura e armazenamento desses mesmos gases, mas cujas emissões não se conseguem evitar que cheguem à atmosfera.
Nessa perspetiva, devem ser melhorados os transportes públicos; devem ser criados combustíveis alternativos para as mercadorias e transportes de longo curso; devem ser criadas condições para aumentar a eficiência energética das habitações e deve ser reforçada a captura de carbono, melhorando a gestão da agricultura, das florestas e dos resíduos.
Há metas definidas pela União Europeia para a descarbonização. Uma delas, passa por, em 2050, todos os carros ligeiros serem movidos a eletricidade.
Por cá, sabendo que o carvão é, dos combustíveis fósseis, aquele que emite mais dióxido de carbono, o encerramento ainda este ano das centrais de Sines e do Pego, são boas notícias.
Deixo uma nota para quem gosta destas temáticas e de ler: Alterações Climáticas, do Professor Filipe Duarte Santos, publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (4€).
E que tal, num final de tarde, promover o casamento perfeito entre um sublime peixe grelhado e um branco à temperatura certa? Num bom “clima”, num local aprazível, parece-me irrecusável! Outras sugestões poderiam ser equacionadas.
Há quem aproveite e esteja aberto a novas experiências gastronómicas. Ora, passou a ser permitido, há bem pouco tempo, experimentar outras iguarias não usuais por estas bandas.
A entomofagia, uso de insetos na alimentação humana, é prática de dois mil milhões de pessoas no mundo e é uma alternativa promissora à produção convencional de carne, com vantagens para a saúde e para o ambiente.
Segundo Rui Nunes, presidente da Portugal Insect, prevê-se a “construção gradual de um mercado que terá o inseto inteiro como produto de nicho e as farinhas de inseto como a grande aposta para serem adicionadas em casa ou pela indústria a todo o tipo de produtos”.
Segundo a FAO (Food and Agriculture Organization), em 2050, o mundo terá 9.000 milhões de habitantes, prevendo-se assim, que as necessidades de produção de alimentos dupliquem. Os insetos têm elevado valor nutricional, baixo custo de produção e são amigos do ambiente, principais razões para serem encarados como uma alternativa promissora.
“Num mundo de abundância, é uma afronta grave que centenas de milhões de pessoas se deitem com fome todos os dias” referiu António Guterres, secretário-geral da ONU.
Poderá, pois, a entomofagia ser um contributo para o objetivo “Fome Zero até 2030”.
Termina hoje em Roma o Food Systems Summit 2021 (Cúpula dos Sistemas Alimentares) onde deverão ter sido lançadas “novas ações ousadas para gerar progresso em todos os 17 ODS (objetivos do desenvolvimento sustentável), cada das quais depende, até certo ponto, de sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e equitativos”.
Uma das primeiras pessoas de que tenha conhecimento que se interessou por este tema, foi Patrícia Borges, docente na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar do Politécnico de Leiria. Esteve presente numas Jornadas Concelhias de Ciência no Externato Delfim Ferreira. Apresentou algumas das suas “iguarias” (ou não) que recolheram genericamente a aceitação dos que as quiseram degustar. Tem um cardápio de fazer inveja: bolachas de manteiga com tenébrios (besouro em fase larvar); wraps com grilos; gafanhotos picantes com malagueta; Zophobas (tenébrio gigante) com chutney de manga; tempura de grilos e gafanhotos com molho de soja; cuscus salteados com pimento verde e encarnado, courgette, gengibre e molho de soja e gafanhotos salteados em azeite e alho; gafanhotos e grilos com chocolate temperado com pimenta; bolo com zophobas e bolachas de tenébrios.
Bom apetite e boas férias…
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