Entre a cidade cinzenta e o território da felicidade

Um olhar sobre a atualidade: os resultados autárquicos, as novas vozes na política local, os 50 anos do 25 de Novembro e o legado de Francisco Pinto Balsemão.

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fachada da câmara municipal de Famalicão fachada da câmara municipal de Famalicão

1.Novos mandatos, novas esperanças

Já foram empossados os eleitos para os órgãos autárquicos saídos das eleições de 12 de outubro.

Na tomada de posse, o edil famalicense salientou que irá trabalhar para que “Famalicão seja não apenas um bom lugar para viver, mas um verdadeiro território de felicidade” — um desígnio que certamente todos os famalicenses querem ver concretizado.

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De imediato, ocorreu-me uma questão que deveria ser pensada, analisada e revertida: a devolução do centro da cidade aos famalicenses. Como seria bom que pudesse ser fruído de forma confortável e aprazível.

A remodelação do centro da cidade deve ser repensada, revertendo o disparate que ali foi cometido. Foram gastos milhões que nada trouxeram de novo, exceto um cinzento monótono, escorregadio e inóspito, que descaracterizou o que deveria ser a nossa sala de visitas.

Urge redesenhar o espaço urbano – com mais árvores, sombras e pavimentos mais frescos.

Se as casas merecem hoje tanta atenção na certificação energética, porque não aspirarem também os municípios a terem as suas zonas de lazer certificadas na prevenção de vagas de calor?

Bem sei que não é habitual dar a mão à palmatória e reconhecer erros e más decisões. Já ouvi dizer: “está feito, não se volta atrás.” Pois bem, recordo a velha máxima da Infantaria: “Nunca recua, faz meia-volta volver e avança.” Porque não?

Novas vozes na política local

Foram empossados os vereadores. Aguarda-se a distribuição dos pelouros. Deseja-se que os eleitos assumam plenamente os seus mandatos e que as candidatas desempenhem a missão que o voto lhes conferiu. Espera-se que não se repita o sucedido nos últimos mandatos, exceção ao último, em que por norma, pelo menos uma candidata desaparecia de imediato. As mulheres querem-se na política para cumprir mandatos e não apenas para preencher listas.

Serão 48 as novas presidentes de câmara. Dos Açores ao Algarve, as eleitas governarão as respetivas autarquias. Às repetentes — Ferrmelinda Pereira (Portalegre), Luísa Salgueiro (Matosinhos), Inês de Medeiros (Almada) e Dores Meira (Setúbal) — juntar-se-ão Isabel Ferreira (Bragança), Ana Abrunhosa (Coimbra), Andreia Silva (Póvoa de Varzim), Ana Raquel Oliveira (Baião) e a surpreendente Raquel Soares Lourenço (Sobral de Monte Agraço).

Em Famalicão, as novas vereadoras — Susana Pereira, Vânia Marçal e Cláudia Vieira — terão a oportunidade de afirmar uma presença política ativa e transformadora.

As duas novidades nos principais órgãos serão Pedro Alves, do Chega, no executivo, e Miguel Fidalgo, da Iniciativa Liberal, na Assembleia Municipal.

Quanto ao primeiro, permanece a curiosidade sobre qual será a sua postura, pois continua sem apresentar programa conhecido ou publicado. A sua candidatura beneficiou do resultado surpreendente do partido nas legislativas — ou melhor, do seu líder. Ventura surgiu como figura central em todos os cartazes, ao lado dos candidatos às câmaras. A muleta parece não ter resultado. Pretendia conquistar 30 autarquias, venceu 3. Afinal, quanto vale o Chega? Os 22,76% de maio ou os 11,86% de outubro? O eleitorado parece fiel ao líder, não ao partido. Sem Ventura, o Chega é um produto light.

Já Miguel Fidalgo será uma nova voz na Assembleia Municipal. Espera-se que enriqueça o debate e contribua para uma discussão política mais plural e construtiva.

  1. 25 de Novembro: memória e maturidade, cinquenta anos depois

O 25 de Novembro de 1975 foi um momento decisivo na consolidação da democracia portuguesa, marcando o fim do chamado Processo Revolucionário em Curso (PREC), que se seguiu à Revolução de 25 de Abril de 1974.

Entre “gonçalvistas/otelistas” e “moderados”, entre forças revolucionárias e democráticas, Portugal esteve à beira de uma rutura. A intervenção coordenada pelo general Ramalho Eanes pôs termo à instabilidade e abriu caminho à normalidade constitucional.

O desfecho marcou o fim da instabilidade revolucionária e abriu caminho para a consolidação de um regime democrático e pluralista.

Este ano assinalam-se 50 anos desse dia histórico, que muitos consideram ter evitado uma guerra civil.

As comemorações estão envoltas em polémica, mas o 25 de Novembro deve ser lembrado como símbolo de maturidade democrática, exaltando o diálogo, o espírito cívico e o respeito pela diferença.

  1. Francisco Pinto Balsemão: o legado de um social-democrata

Portugal viu partir mais um dos seus grandes vultos: Francisco Pinto Balsemão.

Político, jornalista e empresário, foi um dos rostos da Ala Liberal no fim do Estado Novo e, mais tarde, fundador do atual Partido Social Democrata, de que era o militante n.º 1.

Foi Primeiro-Ministro entre 1981 e 1983 e teve papel determinante na revisão constitucional de 1982, que devolveu os militares aos quartéis e consolidou o poder civil.

O seu governo reforçou o caminho de integração europeia, preparando a entrada de Portugal na CEE, e manteve viva a defesa da autodeterminação de Timor-Leste.

Como empresário, fundou o jornal Expresso e o Grupo Impresa, responsável pela SIC, a primeira televisão privada portuguesa, que modernizou o panorama mediático nacional.

No plano internacional, foi, durante 32 anos, membro do Clube de Bilderberg, e em 2018 criou os Encontros de Cascais, uma espécie de “Bilderberg à portuguesa”, reunindo personalidades como Leonor Beleza, Paula Amorim, Isabel Mota, António Ramalho, Carlos Carreiras, Carlos Gomes da Silva e Francisco Pedro Balsemão, entre outros.

A sua vida pública reflete uma constante: o compromisso com a liberdade, a democracia e o pensamento crítico.

 

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