Vistoso é diferente de bonito

O vírus da obra de regime também anda por cá.

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“Falta-lhe o romantismo cívico da agressão.”
Miguel Torga

O Palácio do Parlamento na capital romena é a sede do poder político e administrativo deste país. É uma coisa grande, muito grande. Foi mandado construir por Nicolae Ceauşescu – dizem que tipos frustrados, gostam de coisas grandes. Ao que parece, também é o edifício mais pesado do mundo.

A construção deste “Palácio” pouco acrescentou à prosperidade do povo romeno. Pelo contrário … e arrasou com grande parte do centro histórico de Bucareste. Mas deixou a sua marca e hoje recorda um regime profundamente cruel, que obrigava o seu povo a viver em aldeias, para contrariar o êxodo rural, e proibia o uso de métodos contracetivos, para promover o aumento da população.

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Felizmente vivemos uma realidade muito diferente. No entanto, o vírus da obra de regime também anda por cá.

O valor de uma comunidade e do seu território pouco se relaciona com a quantidade de paredes e muros, telhados e estradas. Se seguirmos esse critério, no top dos melhores sítios para se viver encontraríamos Deli, Xangai, São Paulo, Cidade do México, Cairo ou Jacarta. De fora, ficam todas as cidades da europa.

Se estivermos de acordo em que:

Grande é diferente de bom;

Festa é diferente de alegria;

Muito é diferente de prazeroso;

Vistoso é diferente de bonito… e podia continuar.

Proponho, como mero exercício académico, pensarmos juntos nalgumas questões da nossa terra.

A construção de um novo hospital resolve os problemas do serviço de saúde?

Uns jatos de água coloridos, ao estilo kitsch, tornaram a avenida mais bonita, segura e funcional?

O orçamento, em crescimento galopante, das festas e foguetório, ajudou a unir as pessoas e tornaram a nossa comunidade mais coesa?

Há tempos, vi um estudo que analisava as características urbanísticas que tornavam o Silicone Valley’s (Vale do Silício na Califórnia EUA) atrativo para as sedes das grandes empresas tecnológicas. Nesta lista, encontrei os seguintes atributos:

Walkability (facilidade de fazer percursos a pé);

Interconectada e usos múltiplos dos espaços urbanos (habitação, comércio, lazer, trabalho…);

Diversidade (económica e social) de tipos de casa (uma cidade para todos);

Qualidade da arquitetura e do desenho do espaço urbano, a estrutura de “vizinhança tradicional”;

Aposta na densidade urbana (que é diferente de sobreocupação), o que permite aproximar comércio, serviços e habitação e promove as deslocações a pé;

Quando os serviços da Cãmara Municipal dão o mau exemplo.

Rede transporte inteligente pública de alta qualidade e interconectada com as cidades, vilas e bairros com um desenho amigável aos pedestres, que incentiva o uso de bicicletas, patins, scooters e caminhadas como transporte diário;

No cardápio também aparecem a sustentabilidade e qualidade de vida.

Ao que parece a nova economia prospera onde as pessoas vivem bem.

Até Outubro, talvez, valha “a pena pensar nisto”.

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