4×20+10=80+10=90 anos

O poeta famalicense Salvador Coutinho faz hoje 90 anos.

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No ano em que decorre sem o brilho desejável entre nós o bicentenário do nascimento de Camilo Castelo Branco, 1825/2025, estrelejam também nos céus de Vila Nova de Famalicão os 90 anos lúcidos, intemeratos e caminhantes do poeta famalicense Salvador Coutinho, criador do 1º suplemento literário do histórico Notícias de Famalicão, tendo publicado o 1º  livro de poemas, de título Eu, na ainda existente e também histórica tipografia Minerva e ilustrado pelo arquiteto famalicense José Marinho, como que se apresentando em 1957 aos famalicenses, com 22 anos apenas, e depois e sempre ainda ao longo de mais de 65 anos, publicou diversos romances e contos e poesia principalmente, e cujo último título é de Agosto passado, Esgar de frio aberto para o amanhã, último verso do poema XII que dá título ao inspiradíssimo livro, jóia literária marchetada de encantos rutilantes como as gotas de orvalho…Claro que celebrar hoje 90 anos começa a ser corrente e comum entre nós também, mas a forma como se chega até eles e o caminho percorrido com a firmeza e pragmatismo com que Salvador Coutinho o tem feito é motivo singular e de exaltação pelo exemplo vivo de liberdade de pensamento e exemplo de cidadania constantes, ontem como hoje, 50 anos após o 25 de Abril de 1974.

Como de costume … pouco ou nada de novo e diferente acontece entre nós, a não ser o que passe pelos diretórios dos partidos… motores responsáveis de todas as grandezas (?!) e misérias (!) e que não é fácil pois que até parece que fora desse espaço não existe ninguém capaz de emergir e ser homenageado, apreciado ou distinguido pelo seu percurso e ideário social e político ou outro…que não seja feita a proposta  de instituição/associação/sindicato…como se só quem ostente o cartão partidário, existisse. Estamos longe ainda de ser uma democracia civilista e plena, plural mesmo e tolerante e abrangente ao não perceber os valores das pessoas e comunitários que nos deviam exaltar e unir como famalicenses, viessem de quem viesse…para além de todas as diferenças assumidas, escalão básico e primário de qualquer forma democrática de viver, boa vizinhança e exercício do poder.

Um ano mais / 2027 e Salvador Coutinho completará 70 anos de vida literária o que é obra entre nós, ele que começou trabalhador estudante e focou toda a vida numa série de outras causas em que se meteu, com destaque para com o jurista de elevada craveira que é no panorama profissional e que nunca me pareceu homem que largasse o arado, perdesse tempo em vacuidades efémeras e voltasse atrás nas suas atividades e ideais humanistas e de cidadania.

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São dezenas de títulos que publicou até Julho passado e, não tenho qualquer dúvida que mais que um título novo ou mais estarão na forja do inspirado e inspirador escritor e algo mais bem substantivo e pragmático deveria ser feito pelos autores locais que são bem mais que parece ao avaliarmos a presença em antologias diversas que têm aparecido entre nós, sem esquecer nunca aquele alfobre viçoso de escritores que desde Camilo em Ceide surgiram como o conde de Arnoso, Álvaro de Castelões, Júlio Brandão, Sebastião de Carvalho …Benjamim Salgado, Silva Rego da academia portuguesa de História, Vasco de Carvalho e muitos mais…desde o Luís Serguilha e Aurélio Fernando, Rui Oliveira, Jorge Reis Sá, Marta Duque Vaz e muitos mais.

Por forma a distinguirmos entre nós figuras cimeiras literárias e artísticas de renome criou a Câmara Municipal de Famalicão na década de 90 o Regulamento de Prémios a atribuir a personalidades famalicenses no domínio das artes, das letras e das ciências, sabido que as demais atividades são distinguidas tradicionalmente no dia 9 de Julho desde 1985, dia da cidade desde há 40 anos.

Porque não pensar nisto ou continuar desatento ao mundo dos novos valores culturais que não inexoravelmente… bombos e gaitadas, nós que vivemos e conhecemos tantos jovens talentos na música e artes, nas letras, fotografia e desporto? O panorama cultural mudou muito entre nós nestes anos para melhor pese embora as gritantes lacunas em vários domínios e uma crónica arbitrariedade palpiteira no campo movediço dos apoios…tipo his master voice

Como os cartazes eleitoralistas abafam todo o ar puro e livre da cidade e ninguém quer saber senão de concertos, concertinas e barriguinhas bem crocantes, soi disant… aqui e agora e no jornal local em que se iniciou como dinamizador cultural, trago esta resenha literária bem como visiono toda a relação de seus títulos, sempre em edição de autor, para além da vida ativa que todos lhe reconhecemos, fazendo parte desde a sua criação em 1994 da Associação Dar as Mãos. Faz parte também do escol de escritores e homens/mulheres de letras que escrevem na revista O Escritor da APE, nos 50 anos da APE e 25 de Abril…entre outras variadas e nobres atividades como a columbofilia de que foi lídimo cultor e representante medalhado além da prática de futebol e hóquei.

Tantos poetas jovens dispersos por aí e sem iniciativa de grupo, ignorados pelas autoridades responsáveis e numa terra que Camilo rotulou nos Serões de S. Miguel de Ceide há 150 anos como uma das comarcas mais estúpidas do Minho… para além do Suajo?! Não seria uma boa altura de lhe pregar uma grande partida à volta de Salvador Coutinho envolvendo os jovens escritores/poetas sobre a sua vasta obra poética e literária? São mais de 20 títulos sumarentos e de linguagem magnética e realista, crua e íntima, provocadora e tolerante… em poesia e prosa que vale a pena ler e descobrir nas suas clareiras luminosas e nas suas atonalidades ocultas…e que registo seguidamente…

Eu, 1957…Homem ao vento, contos, 1961…Vinte poemas para a Vida, 1971… Na brisa de um dia cinza,1973…O fingidor, contos, 1980…Poemas de mar e amar ,1984…Luciana a velha, romance, 1984… Exercício de amor, 1987…Doze poemas só, 1999… O primeiro episódio, antologia, 2001… Um pirilampo que rasga a escuridão, 2006…Vem dormir comigo até ser Sol, romance, 2007… Um dia há tanto tempo no mundo, romance, 2011… Prenda mais morro por ti, 2013… E o Sol abriu a janela, 2014…Estou a saber como esperar-te…antologia, 2020… Esgar de frio aberto para o amanhã, 2024… livro que tem por título o último verso do poema XII… exorcizando eu o gume no rosto do poeta para o mais longínquo amanhã.

O promissor jovem e jornalista conceituado Filipe Oliveira, autor de uma primeira e original “Antologia de jovens poetas do baixo Minho,” com as orientações de Sérgio Sousa e Vasco Moreira pelo ano 2000, bem que visionou esta problemática e a ausência de iniciativas desta índole entre nós como já em algumas regiões do País existem. É hora de honrar o maior polígrafo português de todos os tempos e que escolheu viver entre nós e escreveu a maior e melhor parte da sua obra. Se no plano musical VNF se tem agigantado e a FCM tem dado lustro e acolhimento a iniciativas de elevado quilate literário e artístico bom seria que se fosse além da leitura escolar estimulando jovens criadores e jornalistas a porfiarem na intervenção e publicitação dos seus trabalhos na imprensa local e não só, promovendo concursos e iniciativas inspiradoras a este fim…avivando sempre o culto ao maior autor das letras portuguesas, dos mais lidos e estudados ainda…tal o seu entrosamento com os costumes e os hábitos, os tiques e a mania das grandezas e situações familiares  emblemáticas e crónicas da nossa sociedade atual.

O nosso vizinho de Ceide, encalacrado mesmo no mosaico verde e amarelo das freguesias e pintalgado de vermelho rubro das romãs, entre os pinheirais gementes de Vermoim, Ninães e Pouve de um lado e Landim e o monte Córdova de outro é bem o representante cimeiro do que somos desde 1205: uma rotunda aberta de caminhos e oportunidades e uma terra generosa porque trabalhada com o suor do rosto, gente inventiva e criadora e capaz de garantir um futuro melhor para todos, em solidariedade e paz.

 

 

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