Árvores arrasadas em Cabeçudos. Mário Passos acusado de servir “interesses privados”

Socialistas denunciam “novo atentado ambiental em Famalicão” e acusam Mário Passos de “negligenciar o papel fiscalizador do Município”.

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O arvoredo de uma área de 20 hectares de terreno agrícola e da reserva ecológica na freguesia de Cabeçudos, que outrora foi propriedade do Grupo Sonae, junto ao nó de Vila Nova de Famalicão de acesso à rede de autoestradas, foi removido pelo dono da propriedade, que ali quer erguer um projeto de natureza imobiliária.

A denúncia foi feita pelo Partido Socialista de Vila Nova de Famalicão, que fotografou o terreno, que outrora foi propriedade do Grupo Sonae, com árvores abatidas e publicou as imagens nas redes sociais.

O abate aconteceu na semana passada, antes de a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão ter tomado qualquer decisão quanto à intenção de um empresário famalicense de ali promover um projeto imobiliário empresarial.

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“O terreno em Cabeçudos, localizado em área protegida, foi devastado. Já não há árvores, nem flora nem cobertura vegetal em toda a área do terreno”, denuncia o Partido Socialista de Vila Nova de Famalicão, numa publicação lançada esta sexta-feira no Facebook, acompanhada por fotografias ilustrativas de “mais um atentado ambiental no concelho”.

PS QUER EXPLICAÇÕES

O Partido Socialista quer explicações do presidente da Câmara, Mário Passos, sobre o papel da fiscalização municipal face ao “atentado ambiental”. “Ser presidente da Câmara não é estar ao serviço de interesses privados. O seu papel é defender o interesse público e o bem comum”, lembra o PS-Famalicão, considerando “fundamental que o presidente da Câmara dê explicações detalhadas sobre este assunto”.

O Partido Socialista diz ter questionado o presidente da Câmara sobre “o cumprimento do papel fiscalizador do Município” face ao abate de árvores de Cabeçudos. E solicitou “o agendamento urgente de uma reunião” com o autarca. “Mas Mário Passos recusou a reunião”, alegam os socialistas.

Mário Passos recusou receber o líder local do PS, Eduardo Oliveira, e seus pares, remetendo-os para a próxima reunião camarária, agendada para a próxima quarta-feira, 13 de setembro, às 10h00, na qual a proposta sobre o assunto, retirada na última reunião, será novamente apresentada.

LEIS DO TERRITÓRIO VIOLADAS

De acordo com a legislação em vigor, o abate das árvores não poderia ter sido autorizado porque a Câmara Municipal e a Assembleia Municipal ainda não tinham declarado o projeto imobiliário como sendo de interesse municipal.

“O proprietário do terreno agiu sem autorização da Câmara Municipal e da Assembleia Municipal? Mário Passos autorizou ou não autorizou?”, pergunta o Partido Socialista, querendo ainda saber se o presidente da Câmara “está a fechar os olhos à infração da legislação em vigor e a negligenciar o papel fiscalizador do Município”.

“A empresa que devastou tudo agiu dolosamente porque, antes de qualquer pronúncia do Município, abateu toda a flora do terreno. Para perceberem a gravidade da situação, a Lei nº50/2006, de 29 de agosto, no seu artigo 22º, estabelece para casos desses uma coima no mínimo de 240.000 euros e no máximo de 5.000.000 euros”, refere Jorge Costa, deputado líder do grupo socialista na Assembleia Municipal, num artigo de opinião publicado esta terça-feira num jornal local.

VIAGEM POLÉMICA

Este é mais um episódio da polémica que rebentou na última reunião do executivo camarário por causa de uma proposta assinada pelo presidente da Mário Passos, da maioria PSD-CDS, que recomendava a declaração de interesse municipal relativamente a um projeto imobiliário da empresa Parque de Famalicão – Empreendimentos Imobiliários.

Apesar de ter “Famalicão” na designação, a sociedade anónima tem sede na Póvoa de Varzim e tem como presidente do conselho de administração Avelino Reis, antigo presidente da Junta de Fradelos, também da coligação PSD-CDS.

A polémica surgiu após o jornal NOTÍCIAS DE FAMALICÃO ter publicado uma notícia sobre a proposta do presidente da Câmara Mário Passos para a última reunião camarária. A notícia revelou, em exclusivo, a ocorrência de uma viagem a Lisboa do atual presidente da Câmara, Mário Passos, do empresário Avelino Reis e do ex-presidente da Câmara, Paulo Cunha, o advogado contratado por Avelino Reis para conduzir este processo. [ver aqui Mário Passos faz viagem secreta a Lisboa para defender projeto imobiliário em reserva ecológica]

Na última reunião do executivo municipal, os vereadores do PS aceitaram a retirada da proposta sem terem feito quaisquer perguntas ao presidente da Câmara. Mário Passos, por seu turno, não deu explicações para a retirada da proposta e procurou atacar o jornal NOTÍCIAS DE FAMALICÃO, tendo ameaçado com uma queixa-crime em tribunal, mas sem ter desmentido qualquer facto constante na notícia revelada por este jornal. [ver aqui Mário Passos retira proposta e diz que vai apresentar queixa-crime contra jornal]

Agora, na primeira reação pública aos acontecimentos, o PS refere-se a este caso como “a mais recente polémica nesta velha maioria coligação PSD-CDS”, que “envolve o atual e o ex-presidente da Câmara e um ex-presidente de junta”.

Em poucos meses, este é o segundo caso polémico motivado por um projeto de natureza empresarial privada que implica a destruição de uma extensa mancha florestal e a ocupação de terrenos da reserva ecológica nacional. O outro caso, recorde-se, aconteceu nas imediações da capela de Santa Catarina, em Calendário, onde o abate de milhares de árvores para a instalação de uma empresa de energia fotovoltaica nem sequer foi objeto de um estudo de impacte ambiental. [ver aqui Central fotovoltaica será construída em terreno com “perigosidade de incêndio florestal muito alta”]

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