Era uma vez uma mulher que cuidava com amor do seu jardim. Em cada planta celebrava a sua força, em cada flor celebrava a sua beleza, e com paciência e sabedoria esperava pela estação seguinte para colher a surpresa da vida em cada tempo. O seu jardim era feito de flores e árvores, mas também de pessoas, de relações e de afetos. Cuidava de tudo com o mesmo rigor delicado: regava com palavras doces, podava com conselhos certeiros, sem nunca retirar a raiz da esperança.
Quando alguém se aproximava dela com uma tristeza, não afastava os espinhos nem arrancava as ervas daninhas. Antes, ensinava a olhar para eles como parte natural do ciclo da vida. Mostrava-me que assim como a sombra protege do sol, o inverno prepara a primavera. E era nesse gesto sereno de aceitação que revelava a sua verdadeira arte: ser jardineira de sonhos.
Porque mais do que flores, ela cultivava futuro. Sabia ouvir, sabia acreditar e sabia cuidar do invisível — aquelas sementes frágeis que habitam dentro de cada um de nós. Incentivava a ousadia de plantar, mesmo sem garantias de colheita. Alimentava o chão fértil do coração com fé e compaixão. E, acima de tudo, recordava-nos sempre que cada sonho, como cada flor, tem o seu próprio tempo para desabrochar.
Conheci a jardineira de sonhos já fazendo parte do seu jardim. Eu era uma espécie exótica, não autóctone daquele território, e temi não encontrar lugar. Mas ela, com a curiosidade de quem ama a diversidade, recebeu-me com entusiasmo. Nunca distinguiu o que vinha de longe ou de perto. Incluía-me nos bouquets de domingo, onde juntava cores, texturas e fragrâncias, celebrando cada uma sem hierarquias. Ali aprendi que a beleza maior nasce na harmonia da diferença.
Com ela descobri que aceitar-nos como somos, escutar a nossa voz interior e seguir sempre com amor é o caminho para nos tornarmos jardineiros dos nossos próprios sonhos. Aprendi ainda que a fé e a compaixão nunca devem secar, porque quando deixam de correr como água viva, a vida perde o seu sopro.
Hoje, a jardineira de sonhos já não caminha entre as flores do seu jardim terreno. Mas o legado que deixou continua a florescer em cada gesto de ternura, em cada palavra de esperança, em cada olhar que acredita no amanhã. O seu jardim permanece vivo em nós, que dela herdámos a arte de semear sonhos e de cuidar da vida com amor.
Enquanto houver primavera, sei que o seu “olhar” ainda me reconhecerá entre as cores e perfumes que semeou.
Texto escrito em homenagem a Maria Manuela Sarmento Pereira
Comentários