Em 2021, Vila Nova de Famalicão confirmou tradições: o PSD/CDS venceu com maioria absoluta, o PS manteve-se como segunda força e o Chega conquistou um deputado na Assembleia Municipal. Os números oficiais da Comissão Nacional de Eleições (CNE) foram claros e a imprensa nacional — do Jornal de Notícias ao Expresso — registou mais uma vitória sólida da direita no concelho.
Contudo, foi longe do centro político e mais perto das pessoas que se escreveu a verdadeira surpresa. Na União de Freguesias de Antas e Abade de Vermoim, a Iniciativa Liberal alcançou um dos seus melhores resultados locais: 308 votos, 8,33 % dos válidos, segundo a CNE. Foi assim que conquistei um lugar na Assembleia de Freguesia, modesto em número, mas carregado de simbolismo.
Não foi uma cadeira herdada pela tradição, mas conquistada pela convicção. Representava a entrada de uma nova visão política num território dominado pela força histórica do PSD e pela vigilância constante do PS. Foi, ao mesmo tempo, uma vitória e um fardo. Porque o acompanhamento político que deveria sustentar esse mandato nunca chegou. O coordenador local apareceu apenas uma vez — como se a política pudesse resumir-se a presenças ocasionais.
É aí que a reflexão se impõe. A política não se mede nas campanhas de cartaz, nem nas fotografias de circunstância tiradas à pressa em vésperas de eleição. Mede-se nos dias silenciosos, nos corredores discretos, nas reuniões em que se decidem as pequenas resoluções que mudam a vida das pessoas.
Estar presente, mesmo quando outros se ausentam, é viver a essência da política.
Cumpri o programa com o qual me apresentei aos eleitores. Ficou apenas um ponto por concretizar, mas o essencial foi feito. Representar é respeitar a confiança recebida. E, durante quatro anos, honrei — com coragem e dedicação — os fregueses que confiaram em mim.
Muitos perguntam porque não me recandidatei. A resposta é dura: a atual coordenação da Iniciativa Liberal de Famalicão não me quis. Nunca procurou contacto. O silêncio foi total. O coordenador, Paulo Lopes, escolheu a ausência em vez da construção conjunta.
Assim se escreveu um capítulo que não é apenas memória política, mas testemunho: cumprir um programa, mesmo incompleto, é honrar os eleitores; estar presente, mesmo quando outros se ausentam, é viver a essência da política.
A União de Freguesias de Antas e Abade de Vermoim foi mais do que palco eleitoral: foi espaço de prova. Ali aprendi que a política não é feita de campanhas efémeras, mas de perseverança e presença diária.
E agora, a caminho de 2025, fica a interrogação: compreenderão os partidos que a verdadeira força não está em maiorias momentâneas, mas em acompanhar, escutar e servir? Porque a confiança não se pede: conquista-se. E, uma vez conquistada, exige cuidado constante, como a raiz que só floresce se for regada com verdade.
No fim, a política é isto: não o brilho dos holofotes, mas a luz discreta que permanece acesa nos corações de quem acredita. É também isto que nos dá força: não desistirmos de lutar pelo bem de cada um, acreditando sempre num futuro melhor para todos.
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