Teatro é vida

No palco da vida os provérbios entram em cena

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empty vintage seat in auditorium or theater with lights on stage.

No palco da vida, o Teatro é, sem sombra de dúvida, a casa onde o mundo se vira de pernas para o ar — e ainda assim faz todo o sentido. Porque ali, entre luzes e cortinas, é onde quem não arrisca, não petisca, e quem tem boca vai a Roma, nem que seja só para dizer uma “deixa”, fazer uma ponta como figurante ou para ser o personagem principal de um espetáculo que nunca acontecerá.

Dizem que a vida não é um mar de rosas, mas no teatro, pelo menos, é um jardim de emoções. Entre um drama e uma comédia, aprendemos que quem tudo quer, tudo perde — especialmente quando o encenador decide cortar-te o pio na véspera da estreia. Mas não vale a pena chorar, porque águas passadas não movem moinhos e a cavalo dado, não se olham os dentes.

O Teatro ensina-nos que quem espera, sempre alcança, mesmo que o “alcançar” seja um lugar em pé, atrás do cenário, com um balde na mão. E se te corre mal? Ora, errar é humano e quem nunca pecou que atire a primeira pedra — mas com cuidado, porque todos os cuidados são poucos e os cenários custam dinheiro e não se deita fora o que faz falta.

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Há quem diga que muita parra e pouca uva descreve certas produções, mas cada macaco no seu galho. Nem todos nasceram para Shakespeare, e quem nasceu para lagartixa nunca chega a jacaré — mas pode sempre brilhar num musical nem que seja o gago que não canta, como diz o próprio, que não canta, mas encanta. Porque no teatro, mais vale um gosto do que dinheiro no bolso, embora um bom cachê nunca faça mal a ninguém, e todos neste país o que mais procuram são fortunas mesmo que seja necessário pisar o próximo, mas cuidado porque quanto mais sobes, maior é o tombo.

Outubro está à porta e apesar de ser a época em que as folhas caem e as árvores ficam caducas, quem não caducou foi o Festival de Teatro da ATC. Apesar da idade e porque quem corre por gosto não cansa, a malta do palco já anda a aquecer as vozes e a afinar os projetores para o XXXVIII Festival de Teatro da Associação Teatro Construção, que arranca a 4 de outubro. Como dizem os entendidos, quem não tem cão caça com gato porque, com dificuldades conhecidas, valores não reconhecidos, trabalho árduo e persistente e com o orgulho de quem haste a bandeira do Teatro e não nega as suas raízes, a realização deste evento representa bem que desistir é arma dos fracos e que podem-se ir os anéis, mas ficam os dedos. São 38 edições a provar que grão a grão enche a galinha o papo, e que candeia que vai à frente alumia duas vezes, e como tal, a realização do Festival será uma realidade que todos podemos usufruir com espetáculos de deixar água na boca e com uma organização de lhes tirar o chapéu.

Os bastidores, esses sim, são território onde em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Mas mesmo com o caos, de noite todos os gatos são pardos, e com a luz certa, até o ator mais tímido parece um titã. E atenção: quem vê caras não vê corações. Aquele que parece uma estrela pode ser um desastre, e aquele que parece perdido pode roubar o espetáculo — porque a necessidade aguça o engenho e devagar se vai ao longe.

O teatro é também prova viva de que mais vale cair em graça do que ser engraçado. Aplausos são bons, mas gargalhadas no momento errado? Quem semeia ventos, colhe tempestades. Por isso, decorem o texto, respeitem o ensaio, e lembrem-se: quando a esmola é grande, o santo desconfia — especialmente se o encenador ou o produtor vos prometer fama mundial sem cachet.

No fim, Deus escreve direito por linhas tortas, e mesmo que a estreia seja um desastre, há males que vêm por bem. Afinal, quem ri por último, ri melhor — e no teatro tal como na vida, muitas vezes, esse último riso é o mais merecido.

Portanto, a todos os que trabalham, vivem, amam e suam pelo palco e aos atores da vida real: não deixem para amanhã o que podem ensaiar hoje. Porque a ocasião faz o ladrão, e se não estiveres preparado, alguém te rouba o lugar.

A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.

 

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