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Vila Nova de Famalicão
Sexta-feira, 27 Junho 2025
Agostinho Fernandes
Agostinho Fernandes
Agostinho Fernandes foi Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão entre 1983 e 2002, eleito pelo Partido Socialista.

A coragem de pensar de outro modo…

Uma reflexão sobre os meandros políticos de Vila Nova de Famalicão, a classe política local, as desigualdades da imprensa famalicense, as associações ignoradas pela Câmara, sem esquecer "o abate acéfalo da acácia do Jorge, a mais icónica árvore no mundo da língua portuguesa".

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Agostinho Fernandes
Agostinho Fernandes
Agostinho Fernandes foi Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão entre 1983 e 2002, eleito pelo Partido Socialista.

Famalicão

Somos mais livres, mais democratas/democráticos do que em 1974?… Certamente que sim, escreve José Gil. Por mim, acho que não, totalmente, porque sempre saltitando, para parte nenhuma, porque não vemos mais longe que a vida imediata e do efémero, para além dos erros sem conta e ziguezagues dos políticos de proa que nos governaram, todos portugueses e que, supostamente, deveriam ter sido os melhores em todas as áreas políticas de governação ao longo destes 50 anos de regime democrático, porém, e aterrando, e pelo que conheço do cidadão Dr. António Cândido Oliveira, nem Bernardo Soares nem o Esteves da Tabacaria, citadino engravatado, mas sem tiques que ele é… sempre gostou de ler e estudar incessantemente, especular e escrever para si  e intervir cívica e socialmente e comunicar… ele que é um “globetrotter” urbano e escreve a direito por linhas curtas e tortas, como quem respira, arfa sem transpirar ou suspirar, mas que sente a cidade e o coletivo dos famalicenses como poucos, com a objetividade universal possível que, não a densidade de Descartes ou Kant ou Camilo, mas sempre com memória, imprescindível nos tempos que correm e sempre como que pairando sobre as realidades humanas e com a displicência de voar ao contrário sobre um ninho de cucos e com o maior distanciamento pessoal ou mesmo de gabinetes de advogados seus colegas, bordejando sempre a verdade e procurando mesmo exaltá-la, não fora ele o juiz e professor de direito que, semanalmente, e de há muitos anos, cultiva e dissemina uma quota parte pessoal de uma parcela da verdade, que é a sua e a nossa forma pública e legal de estar e de uma participação cívica responsável, atenta e democrática.

Temos formas e estilos de pensar e escrever e agir diferentes como todos os biliões do mundo e como muitos outros que também se comprazem e esgueiram pelas correntezas ainda apertadas, por vezes, das escritas na água da nossa imprensa local/nacional, que assim é que é bonito, com realce para os colunistas dos jornais e títulos mais antigos, o “Jornal de Famalicão”, onde cheguei por mão e estima do meu grande amigo e sagaz jornalista e colunista Jerónimo de Castro, ex-seminarista de Novais e autor muito lido e seguido ao tempo da 5ª ou 7ª coluna no “Correio do Minho”, de Braga, e mesmo de Rebelo Mesquita, um paladino errante e destemido da verdade e sem grandes ambiguidades em prol do que achava de bem ou mal, terrenos difíceis de lavrar e gradar em tempo de ditadores e com quem só se dava com outros por bem ou mal, repetia BS, amigo de ambos e tratando-o de Francisco simplesmente, como trato eu hoje o seu neto, e o “Notícias de Famalicão”, onde cheguei a escrever sob direção e convite do saudoso padre Guimarães, meu colega na velha escola industrial e comercial, sob o título de “Palavras Desalinhadas”, ontem como hoje que nunca fui pássaro de gaiola e antes de porfia pela perfeição…

Mas o António Cândido já peregrinou como eu por diversos jornais que têm e apresentam estatutos editoriais deontologicamente impecáveis mas, aqui e ali, e pelos tempos fora surpreendidos e feridos na sua declaração de princípios pelo aparecimento ou ataque de novos artistas literatelhos ou não mas mais inquiridores ou pretorianos, esses mesmos parentes de Torquemada e que gostam do cetro e de mandar, da vã cobiça no palanque e ar olímpico ou de bastidores, que curtem a mania perversa de brincar com os cidadãos às marionetas, impõem a voz do dono, emanam sinais de fumos de guerra e paz ou de requintados que não requentados almoços em lugares recatados, discretos mas com ar condicionado e rarefeito pelas lascivas cortinas, e apertando ou não o casaco em gesto cerimonioso e um cheirinho a alecrim e de gravidade parola, mas pretensamente solene, fora de muros ou em tascas fixes, entrelaçam-se com os políticos venais da ribalta e em moda ou época de saldos, empreiteiros, “influencers”, lobistas e quejandos, incluindo os futebóis, e ei-los quais mandaretes armados em caciques locais de unha envernizada e pelos nas orelhas e no nariz ou tudo rapado que se usa agora, quais Sinhozinho Malta com pretensões a “big brother” da nossa terra e comunidade, como noutras parvónias apessoadas e  bem à volta de nós, corriqueiro e mais que vulgar neste Minho alcatifado de verdes e dançarino e leve, sem ser preciso citar o arrimo justificativo do saudoso pensador  Eduardo Lourenço para todo este dominante desvario, nem invocar o síndroma de Liliputh, como lhe chama o já também filósofo citado José Gil – um filósofo que gosta de falar do quotidiano real de modo inteligente e, ao mesmo tempo, tão simples, que assim deve ser.

Paulo Cunha.
Paulo Cunha

E gostei particularmente da ênfase que entre nós e recentemente o “Povo de Famalicense” deu ao Encontro Nacional de Imprensa local e regional e digital pela pena de Filomena Lamego, em 7 de maio passado, e onde defende uma Imprensa livre, para além do deputado famalicense Paulo Cunha ter salientado bem que é preciso ir mais longe e ter evidenciado mesmo “o imenso respeito, vou até usar a expressão ‘carinho’ pela comunicação social regional e local.” Gostei, mas…

Como o meu conterrâneo António Cândido, penso eu de que… Também nunca suportei cargas ideológicas abafantes ou estereotipadas, porque contra o homem e a mulher, democráticas ou não, violentas e contra natura ou de outro tipo de intenções, ética e costumes, não nos agachamos facilmente às mentiras dos homens e das suas encarniçadas escaramuças, forradas de jogos subtis pelo poder, bílis e maldade e suas mercearias, que as tentações e mesmo as relaxações à Eça sempre foram mais que muitas nesta terra que por vezes parece o “El Dorado” para alguns e muitos querem ter sempre muito mais, não tolera pobres no seu seio mas parece uma fábrica a fazê-los, em troca de desfalques e desvios para os díscolos, gigotes e barregas do costume, sempre insatisfeitos, incapazes de pagar salários justos, ontem pobretas de lambreta, pés descalços e unha negra enguiçada e hoje palitando os dentes e falando com o palito no canto da boca, enquanto não chega o “cohiba robustus cigar” e o aguarda o Tesla ou Aston Martin, sem motorista porque donaire único e pessoal, o senhor Bentley ou Maserati, casas, moradias com salões de bilhar e garrafeira sofisticada para inglês ver e não só, ténis, yoga e jacuzzi, palacetes e barco no ancoradouro mais oculto do Douro e Caniçada ou Ermal, prédios, enfim, excentricidades infinitas quase como as de Xerazade nas lendárias mil e uma noites e os barulhentos e gastadores rallyes e bicicleteiros para todos os gostos e vaidades sibaríticas e, sem lei nem freios, que os há em todos os lados e origens e como se para ser grande e inteiro fosse preciso antes, durante e sempre ter, ter, ter…

O meu amigo António Cândido escreve sobre tudo e sobre nada, por um nada que até pode ser tudo, em termos telúricos e mesmo pessoanos, por vezes, que o estilo é o homem e que não se intimida também e conforme os dias e os trabalhos, as inspirações e os humores, mas é no “Jornal de Famalicão” que se esbarra, virada a porta de entrada,  com um espaço cimeiro de leitura obrigatória que se lê cada semana e ajuda a formar uma opinião pública, em linguagem simples, universal e aberta e civicamente plural e tolerante, variando como em dobadoira os assuntos do dia a dia, de participação cívica e atenção ao nosso viver coletivo, empertigando um “poucochinho” os políticos sensíveis, mas vulgares, da praça e que se alimentam de um mundo paralelo de fotos, vénias debaixo de pálios babilónicos e títulos bombásticos de primeiras pedras e páginas, inaugurações entre cornetins e bombos e muitos elogios com ou sem razão, do tipo de omelete sem ovos e águas turvas, chegando a sanha confessional a eliminar, substituir ou arredar para os fundos de recolha municipal, sem pudor algum, as placas antigas em obras feitas ou recauchutadas e até cerca de meia/uma dezena de prato único de fotos por número dos novos figurões para os demais jornais quase assalariados pela Câmara Municipal, sempre com o rabo de fora quanto à origem, vulgaridade e similitude nos temperos e textos, tanto é o cabotinismo e fatuidade textual e falta de criatividade e a burrice que, lido um, estão lidos todos e provocam risota nos cafés, porque dependentes da ração e do painço de salmão ou frango e deixando de lado as causas maiores e nobres da cidade, vilas e freguesias e vida coletiva que a todos devia mover e fundamentar a sua atividade.

Exagero?… Visite-se a Biblioteca Camilo Castelo Branco pela porta principal onde nos recebe o luminoso painel do grande Lanhas, mesmo que sem assinatura de autor pela sua amizade, humildade e saber e constate-se o arrojo nefelibata, nefando e mesmo torpe e vergonhoso e ver relegada a marca de um homem da cultura como o Dr. Mário Soares para perto da arrecadação e parque de estacionamento ou no Museu Têxtil e outros, mas pode-se organizar um passeio turístico pela cidade e não só e até Vermoim, por exemplo, para mostrar esses atos ignóbeis e mesmo antidemocráticos para além das mazelas dos pavimentos, as censuras em livros ou piores assuntos mesmo, colocando tabuletas em modestos arranjos de passeios do tempo de D. Maria II, que estes democratas até com a história gostam de brincar como outros palermas e ignorantões mundiais…

Uma vergonha e uma grande pobreza de espírito e civilizacional em que não bate certo a letra com a treta e a careta! Basta olhar para o Boletim Municipal… Parece uma caderneta de fotos/cromos à maneira antiga. Misto de edolatria e culto da personalidade, um bom rosto pálido que ele é, apesar de disfarçar no último e voltar à carga de certeza certezinha no próximo número. Apostam?!… Aqui é como sempre e o povo bate certo e não se engana quando repete que só as moscas mudam, pois que não passam mesmo de grotescas figuras liliputianas locais!…

Portugal vive ainda uma democracia de baixo grau de cidadania e liberdade e dou a esta última palavra um sentido próximo do sentido espinosista. Poucos sabemos ainda o que seja um pensamento livre e raramente no nosso pensamento se atinge o máximo da nossa potência de vida, talvez os artistas o desenvolvam… Dito de outro modo, estamos longe de exprimir, conhecer e reivindicar os nossos direitos cívicos e sociais de cidadania, ou seja, a nossa liberdade de opinião em público, direito à justiça, por exemplo, que justiça é esta e quem os mandantes da prisão de José Sócrates, entre grande aparato e espalhafato policial, ele que se vinha apresentar e que sobre ele impendiam dezenas de crimes e que, passados 10 longos anos, tantos como a guerra de Troia, a montanha cruel da justiça, via uma senhora juíza, acaba de marcar o seu julgamento final para início de Julho por um crime, depois de elencados, propagandeados, esticados, sacudidos e bailados dezenas deles, de carapau a cherne e caviar, e sem provas provadas pelo que se infere e conclui até hoje?!…

Que brincadeira é esta, república ou seja lá o que for, como invetivava Cícero a Catilina, para premeditadamente e a frio pretenderem liquidar assim um Homem que foi primeiro-ministro eleito e que só a História poderá julgar?!… Desabafo lateral, mas oportuno, de quem também já arrostou com o sacrílego gigante do Estado e do avesso da justiça, por manipuladores de bastidores de ocasião e que jamais poderei esquecer. Falaria como ele e seria pior, pois que isto não se faz a ninguém!…

António Cândido de Oliveira

O jeito, o estilo e o gosto de António Cândido escrever hoje no “Jornal de Famalicão” é melhor que anteriormente a meu ver, porque  mais informação e carnuda, tem mensagem assertiva e grão, variada e exata, quase objetiva e certeira, sempre, para além de fundista com luvas ou colunista quando entende, principalmente na área da jurisprudência e talvez aqui e ali, certamente, nos encontremos pela parcela de verdade universal e recíproca que respiramos e proclamamos, hoje que sou mais maduro e tolerante, que o regime democrático tem sido uma jornada de aprendizagem e relações humanas, sem as fortes grilhetas partidárias, raramente parcial, salvo em questões de princípio, a coerência diz Pessoa “é a grande virtude das pequenas almas!…”; mais ouvidor que teimoso ou polémico por ter cada vez menos certezas e ter aprendido algo com os erros de caminho, plural quanto baste, e que não de estreito escaninho ideológico de qualquer força política ou eido filosófico, mas comprometido sempre com a verdade possível e a honra da palavra, com as velhas regras da hermenêutica e orientação social e elevação ética, com olhos de quem vê como um danado e inconformista, descontente e não pactuando nunca com a exploração descarada dos nossos iguais, tripodiando leis, mandamentos e direitos humanos, esquemas de corrupção e a crueldade, entre outras muitas aberrações do dia a dia que conhecemos, e pior, que reconhecemos entre nós ainda, sobretudo entre os mais pobres e conformados com o sistema, infelizmente.

O meu estimado amigo António Cândido, e Homem bom, bem que poderia exercer com eficácia e elevação o prestigiado cargo de Provedor do cidadão do município de Vila Nova de Famalicão como ninguém. Se ele aceitasse ou estivesse para isso e os políticos fossem lúcidos, translúcidos, corajosos e verazes, mesmo dentro das lojas partidárias. Mas não é fácil, apesar do tanto que há para fazer, entre humanos do calibre geral e com que tenho vivido e avaliado, salvo uma ou outra raríssima exceção, de todos os azimutes claro, que ainda teimam em perseverar e resistir aos trejeitos de vaidades da vida na pólis bem como aos trejeitos pornográficos e obtusos, mas contagiosos, de Trump e outros agentes do mal no mundo, lado a lado com o santola de Israel, o novo Hitler judeu e a sombria récua de Putin e Kim e a de outrora, bem infernal, por certo, de Éaco, Minos e Radamanto.

Mário Passos

O caso repetido, velho e relho e abusivo de discriminação constante ou total mesmo na atribuição de serviços e apoios financeiros e publicitários a jornais e que não só pela Câmara Municipal e em que ele vem e muito bem insistindo, denunciando, para que a opereta termine, releva como questão maior e prioritária porque assunto básico, inadmissível e intolerável, pornográfico mesmo e até altamente poluidor e confesso das  preferências maquiavélicas ideológicas municipais e em nada respeitador da pluralidade de opiniões e respeito pelos cidadãos e do regime democrático, dos 50 anos do 25 de Abril e das liberdades de imprensa e expressão, pois que não há uma sem outra. Simplesmente ridículo.

Pensar de outro modo, em democracia, é virtude que alimenta a mesma, a verdade e a transparência… ou motivo de discriminação e erro?… E em casa ou na Universidade é igual como é?… Só pode ser brincadeira grosseira e que dos jornais “avessos e esquinados” passa para algumas juntas de freguesia, instituições de todo o tipo e fornecedores do município?!…

Proclame-se o que se quiser, mas não como democrata que só engorda a paisagem muito baça dos seus partidos e outros descarados do poder local, faltando fazer ainda algumas cadeiras ao senhor professor para se intitular o senhor doutor, pois que continuam e só a ser os médicos e muitos poucos mais. Sei bem o que é estar nesse papel e já o aturei demoradamente e de muitos lados, em situações análogas até, inclusive por parte do então meu partido e da Justiça dos tribunais e seus “egrégios, santos, venerandos e iluminados juízes servidores”, mas tenha coragem de ir mais longe para além dos Sinhozinhos, que em vez de ideais têm seguranças e lambe-botas, verdadeiros papistas e propagandistas, caciques e vigilantes dos costumes, sempre de automóveis topo de gama e até com vidros fumados, para não se vislumbrar o palito dentário…

fachada da câmara municipal de Famalicão

Após eleitos proclamam de imediato, entre lágrimas e voz embargada, que será o Presidente de todos os famalicenses!… Mas preferem assobiar para o lado. E esta safadeza, hein?… Estamos no terceiro maior concelho do País com estes aprendizes de tirania, 50 anos após Abril de 74?!… Só o é porque queremos ou é o que merecemos?!…

Outros assuntos gritantes: abate de árvores sem critério ou explicação atempada, o crime público do abate acéfalo da acácia do Jorge, a mais icónica árvore no mundo da língua portuguesa, que os cidadãos não estão eleitos nem sabem nada de nada e os eleitos estão iluminados, festas e perturbação de trânsito por castigo, altifalantes a desoras e por novena ou quinzena até às tantas e mesmo em cima da janela, subsídios a esmo a certas clientelas enquanto outros muitos e voluntários mesmo, chupam no dedo, mesmo que só espalhem e pratiquem a solidariedade universal ativa e sem rosto e cor, substituindo a Câmara Municipal neste domínio, para nosso descontentamento e indignação.

à frente vê-se a árvore conhecida como Acácia do Jorge e atrás da árvore a casa de Camilo.

O saudoso amigo e presidente Antero Martins instou-nos a avançar na década de 1980 com a Associação Teatro Construção (ATC), em Joane, quando eu era seu vereador e, dizia-se, eram muitos comunistas. A obra cresceu e é fundamental e exemplo na região e país, alfabetizando-se então até muitos dos seus operários, sócios e trabalhadores. Mereceu apoio de muitos governos e muitos governantes passaram e exaltaram a obra. A Câmara Municipal atual ignora completamente a obra e o seu trabalho, como é público, e como que caiu em desgraça, não fazendo parte dos apoios camarários. É como se a ATC não existisse.

Como sei?… Tomei um café bem perto e podia agora desfilar o terço dos felizardos, mas não tenho paciência nem feitio para conjugar com tanta baixeza e não é caso único. Porquê, senhor professor doutor de Nine que, afinal, só olha para alguns na sua governação, e mais cuidado com os seus passos e passinhos, passarinhos e pardalões, que os melões estão a ficar maduros e a chegar por aí… É imperioso capá-los, para saber se são bons ou… podres até!!!

Só me resta poder aconselhar a leitura do Tratado da Reforma do Entendimento, de Bento Espinosa, ou, em alternativa, Regras para a Direção do Espírito, de René Descartes, em edição popular. Aproveite esta última oportunidade para ficar de boa memória, como o Mestre de Avis, porque, confidenciava-me Antero Martins, poucos lhe ligarão depois da sua passagem. Mais: mudam de passeio para não o ver, distraídos que vão e nem o cumprimentarem.

Finalmente, um assunto sobre o qual me senti bem, pagando 2 euros pela entrada – pois que aqui a idade é posto, coisa rara entre nós… – para ouvir a orquestra juvenil da Artave, que tem potencial para chegar bem longe com tantos bons músicos jovens e escolas de música, na Casa das Artes, que conta já 24 anos entre nós, com o maestro Luís Machado e o musicólogo brilhante Jorge Castro Ribeiro, como que replicando a Bernstein nos concertos Promenade.

Mais desafios?!… Por exemplo… 1812… Abertura de Tchaikovsky durante o bicentenário de Camilo Castelo Branco?… Uma provocação. Foi um banquete espiritual antes de almoço e entre Johann Strauss, que nasceu em 1825 como o nosso Camilo Castelo Branco, concorrendo assim para a celebração do seu modesto bicentenário entre nós, o grande Mahler e os parabéns especiais interpretados pelo genial Igor Stravinsky que os deve ter escrito na grande América das liberdades e de JFK pelas suas atonalidades e ao lado de outras suas obras imortais de índole dodecafónica e ballets… Sagração da Primavera, O Pássaro de Fogo, História do Soldado, entre muitas outras… E coreografia de seu amigo Diaghilev, ambos sepultados em Veneza, fugindo da ditadura soviética, que tal brilhantismo criador nunca lá desabrocharia. Ali, nem o samba de uma nota só!… Estou a exagerar, que diabo!…, pois que o inefável Tchaikowsky, Borodin, Prokofiev e mesmo Rimsky-Korsakov e Shostakovich (que fez parte do comité central da URSS) foram grandes, a par também do maior… Rachmaninov… que chatice!… É que este, tal como Stravinsky, também fugiu para a terra do Tio Sam…

Espero que isto auspicie algo de qualitativamente superior em termos de qualidade de programação exigente e constante na bela Casa das Artes e relegue para outros palcos aquilo a que o primeiro-ministro classificava, há dias, metaforicamente, claro, na tomada de posse, como a  “cultura de quintal”… ou de hortinhas… e quintalinhos… que o espírito sopra donde quer, desde que não faça recordar o antigo, anestesiante, tóxico, porque ôco, maquiavélico e dormente… Inatel. O momento é ruidoso e de festarolas, beijinhos trocados e abraços no ar, de opções e muita pimbalhada mesmo, mas muito opaco e confessional, porque diz que parece mas não é universal nem aberto, verdadeiramente plural e tolerante e livre, como a democracia deve ser e funcionar!…

Infelizmente, não gosto desta práxis, mas nada mais excelso que a música, como sublinhava o grande Beethoven, meu grande inspirador desde cedo e ao longo da vida e, entre muitos outros, claro, e a par da literatura e filosofia, o maior consolo, para nos redimir pessoalmente e alcandorar a patamares sem igual de felicidade espiritual, humanidade e paz, permitindo-nos assim viver melhor e superar a nossa tão débil e desprezada condição humana de existir com dignidade e a que, seja onde for, temos direito…

Basta olhar para o nosso lado!…

 

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Agostinho Fernandes
Agostinho Fernandes
Agostinho Fernandes foi Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão entre 1983 e 2002, eleito pelo Partido Socialista.
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