Perito do Governo que defende o encerramento de maternidades elogia partos humanizados no Hospital de Famalicão

Maternidade de Vila Nova de Famalicão é um exemplo no Serviço Nacional de Saúde, mas corre o risco de ser encerrada pelo Governo.

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Diogo Ayres Campos elogiou o Hospital de Vila Nova de Famalicão em entrevista à SIC. Imagem: Reportagem da SIC

Diogo Ayres de Campos, o perito que lidera a comissão de especialistas nomeada pelo Governo, que propõe o encerramento da maternidade do Hospital de Vila Nova de Famalicão, é o mesmo perito que elogia o trabalho da maternidade famalicense ao nível da humanização do parto.

“Há hospitais que têm condições, quer físicas, quer de equipa, para respostas mais humanizadas. [O Hospital de] Famalicão é um exemplo desses”, afirmou Diogo Ayres de Campos, entrevista pela SIC no âmbito da reportagem “A natureza do parto”, emitida no “Jornal da Noite” deste sábado, 15 de outubro.

Ou seja, a maternidade do Centro Hospitalar do Médio Ave (CHMA), que serve os municípios de Vila Nova de Famalicão, Santo Tirso e Trofa, tem boas condições logísticas, mas, mesmo assim, tem um futuro incerto. Não obstante isso, no mês de setembro, nasceram em Vila Nova de Famalicão um total de 135 bebés.

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Grávida em trabalho de parto na maternidade de Vila Nova de Famalicão. Imagem: Reportagem da SIC

Apesar do reconhecimento público de Diogo Ayres de Campos, médico e professor de Ginecologia e Obstetrícia na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, a Maternidade de Vila Nova de Famalicão está na lista negra da comissão liderada pelo próprio Diogo Ayres de Campos.

Ayres de Campos escuda-se na necessidade de concentrar recursos e empurra a palavra final para o ministro da Saúde. “Se queremos uma resposta rápida temos de ter em cima da mesa a hipótese de concentrar alguns recursos. Concentrar alguns recursos é concentrar urgências e blocos de partos. Esse trabalho foi feito e foi entregue ao senhor ministro da Saúde e estamos a aguardar que haja uma decisão. Uma decisão que será, seguramente, política e não uma decisão técnica.”

O grupo de peritos foi nomeado pelo Governo com o objetivo de encontrar soluções para a falta de especialistas em obstetrícia, para evitar situações de rotura dos serviços, como aconteceu no último verão em diversos hospitais portugueses. Não foi, porém, o caso do Hospital de Vila Nova de Famalicão, cuja maternidade funcionou sempre.

Hospital de Famalicão mostrou boas práticas a todo o país. Imagem: Reportagem da SIC

A comissão defende o encerramento de seis maternidades em todo o país e a concentração de serviços. Na região Norte propõe o encerramento as maternidades de Famalicão e Póvoa de Varzim, na região Centro, as maternidades de Guarda e Castelo Branco, e, na região de Lisboa e Vale do Tejo, o fecho das maternidades de Vila Franca de Xira e Barreiro. Diogo Ayres de Campos considera que a maternidade de Famalicão é descartável, dada a proximidade face aos hospitais de Guimarães ou Braga.

Saritta Nápoles, responsável pelo bloco de partos da maternidade do Centro Hospitalar do Médio Ave (CHMA), não comenta o estudo em causa, preferindo falar do seu trabalho quotidiano. “Nós nunca tivemos a urgência fechada. Asseguramos sempre o serviço. Temos um bloco de partos novo. As mulheres que vêm ter os seus bebés aqui estão tão felizes, tão felizes, o que me deixa imensamente feliz”, afirmou à SIC a responsável da maternidade famalicense.

Saritta Nápoles, responsável pelo bloco de partos de Famalicão. Imagem: Reportagem da SIC

A reportagem da SIC versou sobre a violência obstétrica nos hospitais portugueses, ouvindo mulheres que tiveram experiências traumáticas, e apresentou a maternidade do Hospital de Vila Nova de Famalicão como exemplo na humanização do parto.

Na maternidade famalicense, as grávidas são preparadas para o parto, existindo mesmo um “plano de parto”, e são informadas sobre os seus direitos. E para inibir a dor do parto natural, recebem a “walking epidural”, uma anestesia que permite que a grávida continue a movimentar-se nos trabalhos do parto.

“A MULHER NO CENTRO DAS DECISÕES”

“Nós começamos a colocar a mulher no centro das decisões”, afirma Saritta Nápoles, que é considerada a alma da humanização do parto em Vila Nova de Famalicão. Ela defende uma instrumentalização no nascimento cada vez menor e considera importante que as mulheres sejam bem informadas sobre o que vai acontecer ou pode acontecer durante o parto.

“O plano de parto é importante para nós porque quando uma mulher chega à sala de partos com um plano nõs ficamos a saber aquilo que ela quer sem nunca termos estado com ela”, explica Saritta Nápoles, que só recomenda a intervenção cirúrgica, ou seja, a cesariana, como solução de último recurso.

Saritta Nápoles, responsável pelo bloco de partos de Famalicão. Imagem: Reportagem da SIC

“Acho que uma cesariana a pedido da mulher só acontece quando a mulher não está informada. O risco de morte materna é muito menor num parto vaginal do que numa cesariana”, explica Saritta Nápoles, adiantando que os riscos de infeção, de hemorragia e de necessidade de uma transfusão de sangue também “são muito maiores” numa cesariana do que num parto vaginal. E a médica acrescenta outro dado: “A percentagem de amamentação é muito maior num parto vaginal do que numa cesariana.”

CHEGA PROMOVE VIGÍLIA

Entretanto, a ameaça que paira sobre o futuro da Maternidade de Vila Nova de Famalicão levou a Distrital de Braga e a Concelhia famalicense do Partido Chega a organizar uma vigília, que está marcada para a noite desta segunda-feira, 17 de Outubro, a partir das 21 horas, em frente ao Hospital de Vila Nova de Famalicão. O objetivo do partido da direita radical é defender “a continuidade do serviço de maternidade e obstetrícia”.

Os responsáveis do Chega consideram que o eventual encerramento da maternidade “constitui uma grave ofensa a toda a comunidade que reside no Baixo Minho, em especial a famalicense, que se vê, assim, privada de um serviço fundamental”.

O partido informou que a vigília contará com a presença de Filipe Melo, deputado eleito pelo distrito de Braga, assim como de elementos da comissão politica distrital e da Concelhia de Vila Nova de Famalicão.

Obs. – Veja a reportagem completa “A natureza do parto”, transmitida no Jornal da Noite da SIC, no dia 15 de outubro de 2022, no link: https://bit.ly/3S7Glwf.

(Notícia atualizada segunda-feira, 17 de outubro, às 10h05)

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