Três pelouros, zero coerência

É difícil não concluir que esta opção revela falta de estratégia e de coragem política. Famalicão precisava de uma liderança ambiental forte, unificada e responsável perante as pessoas e as suas preocupações

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A decisão de Mário Passos de dividir as competências ambientais por três responsáveis — ele próprio com ambiente e neutralidade carbónica; Vânia Marçal responsável pelos espaços verdes e floresta e Hélder Pereira com infraestruturas ambientais e gestão de resíduos não é apenas estranha, é politicamente incompreensível e arrisco-me a dizer tecnicamente contraproducente.

Três pelouros distintos significam três discursos, três prioridades e — inevitavelmente — três ritmos de trabalho diferentes. A gestão dos espaços verdes, por exemplo, não pode ser dissociada das políticas de mitigação climática. A forma como se gere a floresta tem impacto direto na neutralidade carbónica municipal. Do mesmo modo, a gestão de resíduos e a eficiência das infraestruturas ambientais são componentes centrais de qualquer estratégia séria de sustentabilidade. Ao separar estes domínios, a autarquia arrisca-se a promover políticas contraditórias, redundantes ou simplesmente ineficazes.

Quem responde, afinal, pela política ambiental de Famalicão? Aquele que trata das florestas? O que gere os resíduos? Ou o que pensa a neutralidade carbónica? Cá por mim todos, mas, a ser assim, a responsabilização e o escrutínio público será dificultado (será esse o objetivo? Entrarmos num jogo de empurra?)

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Num município que gosta de se apresentar como moderno e sustentável, esta fragmentação parece mais um exercício de repartição de cargos do que uma estratégia ambiental séria. A sensação que fica é a de que o ambiente foi retalhado para dividir o mal pelas aldeias, e não para servir o interesse público.

Deixo uma previsão (qual bola de cristal), com três pelouros distintos a dispersar responsabilidades, a autarquia cria um labirinto burocrático onde ninguém tem uma visão completa e integrada do território. E onde, inevitavelmente, falhas de comunicação, redundâncias e decisões contraditórias se tornam quase garantidas.

É difícil não concluir que esta opção revela falta de estratégia e de coragem política. Famalicão precisava de uma liderança ambiental forte, unificada e responsável perante as pessoas e as suas preocupações. Em vez disso, fica com três “meios pelouros”, onde cada um olha para a sua parcela, mas ninguém olha para o todo.

Repare-se que nenhum dos pelouros reconhece a problemática das alterações climáticas como problema urgente. Mário Passos vai sempre a tempo de aceitar a seguinte sugestão: Criar um Conselho Municipal para o Ambiente e Ação Climática, onde todos os vereadores têm assento, onde todas as associações tenham uma voz, e não tenha receio de convidar o partido ecologista do concelho. É no debate de ideias que a democracia é respeitada.

A crise ambiental é demasiado séria para ser tratada como um exercício administrativo em que cada um vê o que lhe sai no brinde (a nós saiu a fava, mas mais natais virão, tenhamos esperança).

 

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