Setembro é, para mim, sempre um mês de grandes emoções misturadas. Deixo para trás a leveza das férias e entro na correria das mochilas, dos horários, dos compromissos que se multiplicam. Mas há também aquela sensação de recomeço, quase como se abríssemos um livro em branco. E, todos os anos, pergunto-me: estamos realmente prontos para este novo ano letivo?
A escola é o lugar do saber, mas também deveria ser o lugar da equidade. Sim, equidade – e não apenas “inclusão”. Porque incluir, sejamos honestos, soa muitas vezes a utopia. Basta pensarmos de forma diferente do grupo, não correspondermos às expectativas criadas em nosso nome – sejam elas boas ou más – e logo passamos a ser excluídos.
Não é preciso muito: basta discordar, bastar levantar uma questão, basta não seguir o rebanho. E de repente somos retirados de grupos, de listas, de convites, de cargos. Tornamo-nos personas non gratas.
A exclusão não é um conceito distantes; está nos corredores da escola, nas reuniões de pais, nas relações entre famílias e até dentro das equipas educativas.
Se falamos de ensino especial, a ferida ainda é mais visível. Estas crianças e jovens não precisam de discursos bonitos sobre “inclusão”. Precisam, sim, que se lhes reconheça o direito a oportunidades ajustadas, a olhares atentos e a respostas concretas. Falar em equidade é entender que cada um tem o seu ponto de partida, o seu ritmo, as suas necessidades. Tudo o resto é retórica que pouco muda.
E depois há o papel dos pais. É curioso — ou talvez triste — notar que, a partir do 2.º ciclo, muitos parecem desligar-se. Como se a educação fosse um trabalho exclusivamente da escola. As reuniões ficam às moscas, os professores pedem colaboração e não a encontram, e os filhos crescem sem sentir essa ponte tão essencial entre casa e escola. A ausência dos pais não é neutra: é também uma forma de exclusão.
No meio disto, o Estado vai legislando. A mais recente medida, a proibição do uso dos telemóveis nas escolas, iniciou no dia 12 de setembro. É um passo que gera discussão, mas pergunto: é suficiente? Desligar aparelhos é fácil. O difícil é ensinar a desligar para se ligar ao outro. É criar relações reais, é devolver tempo e atenção ao que realmente importa.
E talvez seja aqui que reside o maior desafio: a falta de empatia. Empatia para escutar antes de julgar, para compreender antes de criticar, para apoiar antes de excluir. A escola só cumprirá a sua missão quando pais, professores, auxiliares e direções perceberem que cada um carrega o seu fardo, mas que juntos podemos aliviar o peso uns dos outros.
Por isso, neste setembro, não gostaria apenas de ver mochilas arrumadas ou listas escolares completas. Gostava, sim, de ver uma escola onde a equidade fosse palavra viva, onde a empatia fosse prática diária, onde ninguém se sentisse de fora por ser diferente, por ter menos, por precisar de mais.
Setembro é recomeço. É oportunidade.
E agora?
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