Inteligência artificial ou a artificialização do ser humano?

Uma evolução tecnológica onde o medo e o ódio são incutidos sem qualquer controlo não pode ser uma boa evolução.

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Se me perguntarem qual um dos maiores desafios para a nossa, e para as futuras gerações, sem dúvida, que a par das alterações climáticas será a inteligência artificial (IA).

A inteligência artificial por si só não haveria de carregar muitas maleitas. O desafio está nos limites a ela associada, nos contextos em que é utilizada, e os fins para que a mesma é usada. Sabemos que longe vão os tempos da IA “simples”. Atualmente, o nível de complexidade, de funções, de programas que estão disponíveis à distância de um “click” é, assustadoramente, gigante!

A questão a colocar (ou a que deveríamos colocar) é: como distinguir o real do falso? Como garantir que não ficamos “presos” a realidades virtuais que nos vendem o que querem, mantendo-nos reféns de um “gosto” que fizemos numa qualquer publicação? E, mais importante, como evitar um retrocesso naquilo que nos distingue de outros seres vivos: a arte de argumentar, ou o sentido crítico. Onde fica a reflexão?! Que desafios enfrentamos quando retiramos às crianças e aos jovens a humanidade nas suas relações sociais? Como garantir que os espaços educativos não sucumbem à tentação tecnológica de tal modo que os valores verdadeiramente humanos como a empatia, compaixão, ou o respeito fiquem esquecidos numa gaveta empoeirada, num livro fechado*.

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Uma evolução (tecnológica) que direciona as sociedades para um mundo de sombras onde a ignorância se entrelaça com a ilusão, onde o medo e o ódio são incutidos sem qualquer controlo não pode ser uma boa evolução. Uma evolução que nos obriga a, literalmente, baixar a cabeça, e nos remete para o isolamento. Que altera, negativamente, os comportamentos sociais, cria mundos alternativos “perfeitos”, contribuindo para uma total desconexão com o próximo. Que faz acreditar em discursos que não foram ditos, em situações que não foram vividas, em soluções milagrosas seja qual for a necessidade. Isto não pode ser uma boa evolução.

Vivemos numa Alegoria da Caverna moderna, individual, digital e enquanto isso aumentam os casos de violência doméstica, de comportamentos xenófobos e discriminatórios, em que a misoginia parece querer libertar-se ainda mais das correntes.

Estará a inteligência artificial ao serviço do ser humano, ou estaremos a assistir à artificialização do ser humano?

Ficam as reflexões, enquanto for possível…

 

* A Suécia, por exemplo, foi pioneira na substituição dos livros escolares por manuais digitais, mas
recentemente decidiu reverter essa medida. Após observar uma descida nos resultados escolares, o
governo sueco iniciou, em 2022, um programa para reintroduzir livros em formato impresso nas
escolas. Esta e outras informações, disponível neste link.

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