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Vila Nova de Famalicão
Quarta-feira, 20 Agosto 2025
Davide Vieira de Castro
Davide Vieira de Castro
É um dos filhos do fundador da Vieira de Castro. Militante do PSD de Vila Nova de Famalicão, de que foi dirigente, continua um cidadão ativo na sociedade famalicense, cultivando a sua veia criativa nas artes e na escrita.

O comprador de poder

O comprador de poder não discute princípios; discute preços. Para ele, a ética não passa de moeda em circulação, quanto mais pesada a carteira, mais leve fica a consciência.

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Davide Vieira de Castro
Davide Vieira de Castro
É um dos filhos do fundador da Vieira de Castro. Militante do PSD de Vila Nova de Famalicão, de que foi dirigente, continua um cidadão ativo na sociedade famalicense, cultivando a sua veia criativa nas artes e na escrita.

Famalicão

Há quem compre pão, há quem compre casas, e há quem compre poder. Este último não precisa de listas de compras, apenas de uma carteira cheia e de uma ética maleável, tão flexível que se dobra como uma nota amarrotada.

O comprador de poder não discute princípios; discute preços. Para ele, a ética não passa de moeda em circulação, quanto mais pesada a carteira, mais leve fica a consciência. A justiça? Um serviço a contratar. A dignidade? Um acessório, útil para enfeitar discursos e fotografias em eventos oficiais.

E como se não bastasse o dinheiro, há ainda a encenação. O comprador de poder sabe que não basta enriquecer; é preciso encobrir o atalho, fingir que foi pelo caminho mais longo. É aí que nasce a sua maior arma: a falsa modéstia.

Finge-se humilde, fala em “sorte”, em “oportunidades que a vida lhe deu”, em “trabalho duro”, como se tivesse realmente suado cada degrau. Sabe que a plateia gosta de acreditar no conto do “self-made man”. E, por isso, faz questão de vestir a modéstia como quem veste um casaco caro, cuidadosamente escolhido para impressionar.

Nada é tão falso como a sua humildade estudada: os gestos de proximidade, o sorriso que ensaia ao cumprimentar quem sempre ignorou, o tom de voz suave quando precisa de parecer acessível. A modéstia serve-lhe como disfarce: cobre a opulência, mascara a arrogância, apaga o preço real das conquistas.

Na sua lógica, o mérito é um luxo que os outros ainda acreditam ter valor. Ele não tem tempo para esperar que a vida seja justa; prefere acelerar com cheques, patrocínios e jantares com as pessoas certas. Compra o presente e hipoteca o futuro: silêncios, favores, influência.

E no fim, a sociedade aplaude. Porque a ascensão parece legítima, a fortuna parece merecida, a modéstia parece sincera. Poucos querem ver para lá da cortina. É mais cómodo acreditar na narrativa da humildade triunfante do que desconfiar da encenação.

Resta a pergunta: quando até a modéstia é comprada e ensaiada, o que sobra que ainda seja verdadeiro? Talvez apenas o cinismo dos que observam de fora, ainda sem dinheiro, nem paciência, para entrar nesse mercado.

Porque se a ética é dinheiro e a modéstia é disfarce, o comprador de poder não sobe: encena. E, infelizmente, a encenação continua a ser o espetáculo preferido de quem assiste.

 

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