Chegámos às urgências do hospital de Famalicão por volta das 14 horas, encaminhados
pelo SNS 24. O tempo foi passando, a sala foi mudando de cor com a luz da tarde que se
extinguia, e apenas às 22h30 fomos finalmente chamados para atendimento.
O espaço que nos recebeu estava longe de merecer o nome de gabinete médico. Mais parecia o armário de arrumos de uma casa de classe média em declínio do que uma sala destinada a cuidar da saúde de cidadãos. Não havia termómetro, o oxímetro não funcionava e as condições eram indignas de um hospital.
E, no entanto, naquele cenário de carência, brilhou o exemplo de uma médica jovem. Trazia nos olhos o cansaço acumulado de quem dá muito mais do que lhe é pedido, mas também a determinação serena de quem não abdica do juramento que fez.
Perante a falha dos meios, abriu a sua própria mala e retirou de lá o oxímetro pessoal, garantindo que o doente não ficava sem avaliação. Quando percebeu que não havia sequer uma cadeira disponível, saiu da sala e regressou, carregando ela mesma uma cadeira nas mãos, gesto simples, mas profundamente humano, que devolveu dignidade ao ato médico.
Nos corredores, os enfermeiros correm sem parar. Movem-se depressa, tentam ser
atenciosos, mas deixam transparecer um cansaço extremo, resultado de um sistema que
exige deles mais do que é justo exigir.
Eu, acompanhante, continuo aqui. O paciente já realizou análises e encontra-se ligado a um soro. Do lado de fora, vejo ainda pessoas com pulseira amarela, que chegaram às 14 horas e continuam à espera de serem chamadas.
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