Têm-me perguntado muito se eu acho que a inteligência artificial vai prejudicar o desenvolvimento infantil e estragar as gerações futuras. Tenho dado respostas à psicóloga: depende! A IA é uma ferramenta, e como todas as ferramentas pode
ser bem ou mal utilizada, e esta utilização tem prós e contras.
A primeira reflexão que gosto de fazer é: porque é que uma criança haveria de ter acesso à inteligência artificial sem monitorização de um adulto? É a mesma questão que se coloca para todo o tipo de ferramentas relacionadas com
tecnologias: uma criança não tem maturidade para lidar com os riscos que advêm da utilização de ecrãs, seja nas redes sociais, jogos, vídeos, ou IA – e por isso parece-me óbvio que não deve ter acesso a ela sem monitorização.
Claro que, não havendo esta monitorização, os prejuízos para o desenvolvimento infantil podem ser muitos. A criança que se sente sempre compreendida numa conversa com um chat de inteligência artificial vai ver prejuízos no seu
desenvolvimento social, tendo dificuldades, por exemplo, em lidar com opiniões opostas às suas ou em ler linguagem não verbal. A criança que vê os trabalhos da escola a serem feitos em segundos, vai condicionar o desenvolvimento da
criatividade, do pensamento crítico, e vai desinteressar-se pelo estudo aprofundado das matérias escolares. E podemos, ainda, falar de riscos relacionados com privacidade e segurança.
No entanto, bem utilizada, a inteligência artificial pode ser também uma aliada na educação das crianças. Os pais podem, por exemplo, orientar as crianças para utilizarem as plataformas de inteligência artificial para ajudar a esclarecer dúvidas, a criar fichas personalizadas para treinar determinadas competências e até a tirar partido da IA para necessidades educativas especiais (e.g., ler textos para crianças com dificuldades auditivas).
Em suma, não é que a IA seja a vilã do desenvolvimento infantil, mas é necessário definir limites claros na sua utilização por parte de crianças e investir em outro tipo de atividades de estimulação social e cognitiva para colmatar possíveis riscos associados.
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