Calar-me? Ainda agora comecei…

Quando um candidato “manda calar” uma candidata, tendo-o feito à única mulher que lhe fez frente, esperava-se que a resposta dos restantes candidatos fosse, no mínimo, de indignação perante tal afirmação. 

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Ponderei bastante em escrever estas linhas, mas, aqui vai.

Passados 4 dias após as eleições locais, será porventura prematuro afirmar com reais certezas o que falhou, ou correu menos bem, o que se poderia ter feito de diferente, de que forma poderíamos ter levado a mensagem do PAN às pessoas. Essas reflexões serão feitas quer a nível interno, quer com todas aquelas pessoas que de alguma forma nos acompanham de forma mais próxima, ainda que não diretamente associadas ao partido.

Certezas, existem algumas. O PAN fez uma campanha séria, construtiva, que refletiu o trabalho de 4 anos. Levamos informação, dados, soluções, novas perspectivas e deixamos de lado o populismo. Optamos por não camuflar a nossa ideologia e não tivemos receio de pôr a descoberto erros, ilegalidades, contradições não só do executivo, mas dos partidos da oposição. E só por isso, a nível pessoal, tenho um orgulho enorme nesta forma de estar na política.

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Um projeto político não é, nem deveria ser, um projeto “pop up”, quase em modo cogumelo que em certa altura aparece para dar ar da sua graça. Um projeto político, pelo menos aquele que defendo, é um trabalho contínuo, assente na proximidade e focado em dar respostas aos problemas de uma comunidade.

A nível pessoal, pois é assim que me expresso neste fórum, ficou claro que temos desafios locais (não só nacionais) que cada ano vão ficar mais evidentes.

O facto de termos um crescimento da extrema-direita ao longo dos últimos anos (apesar do tropeção nas autárquicas)  e de um PSD que cada vez mais se cola ao discurso xenófobo, racista e discriminatório é um sinal claro que os valores e princípios que andamos há décadas a lutar está em crise. Mas estão em crise, também, porque existe um silêncio ensurdecedor dos restantes partidos perante situações que, no mínimo, deveriam  causar desconforto.

Um pequeno exemplo: quando no caso em que um candidato “manda calar” uma candidata, tendo-o feito à única mulher que lhe fez frente, esperava-se que a resposta dos restantes colegas de bancada fosse, no mínimo, de indignação perante tal afirmação.

A atitude do candidato, agora reeleito, Mário Passos no debate do jornal Cidade Hoje  em que diretamente me interpela para dizer “deve falar menos”, revela uma de duas coisas (ou até as duas): uma atitude machista de quem não lida bem com a liderança de uma mulher (o que atendendo aos problemas internos do partido, nada surpreende); ou, de uma forma indireta deu-me um aviso que era melhor eu falar menos para não sofrer consequências.

Ora, sinto-me obrigada a informar aos mais distraídos que é contra este tipo de atitude que diariamente luto. E reforço: meninas e mulheres deste concelho, nunca se calem ou se diminuam na vossa condição de mulher.

Da minha parte, não está nos meus planos falar menos (quem me conhece sabe que tenho tendência a dizer o que penso, chatice para alguns!) ou calar-me perante crimes ambientais, ou a falta de proteção a vítimas violência doméstica. Nunca me calarei perante os maus tratos a animais e/ou a contínua exclusão dos mais vulneráveis. Cá estarei para continuar a causar desconforto a quem pensa que é dono disto tudo.

 

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Aqui quem manda sou eu, o presidente da junta, que diacho!

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