Portugal passa por uma situação complicada e por um desafio social e económico no que diz respeito à saúde mental e todo o impacto que esta tem no país. A doença mental, é um problema quase invisível, estimando-se que um em cada cinco portugueses sofram de algum distúrbio mental e que cerca de 4% vivem com doenças mentais graves, como a esquizofrenia, bipolaridade, transtornos relacionados com o consumo de substância, ansiedade entre outras. Estes números e dados traduzem, não apenas uma simples estatística, mas sofrimento humano, exclusão, solidão e uma fatura coletiva bem pesada.
Pensar na doença mental, leva-nos também a refletir que, não apenas o indivíduo sofre as suas consequências, mas afeta relações, oportunidades profissionais e sociais, bem como a estabilidade familiar e económica. Muitos dos cuidadores vivem em exaustão emocional, financeira e física, sem redes de apoio ou reconhecimento. Paralelamente a estas dificuldades, podemos referir a falta de conhecimento científico no apoio que os doentes necessitam, bem como de formação adequada sobre a temática. O estigma- ainda profundamente enraizado – faz com que as pessoas adiem o pedido de ajuda, reforçando assim o ciclo de isolamento e a degradação da saúde.
Em Portugal, quase 20% dos trabalhadores lidam com problemas de saúde mental, e as empresas perdem um número assustador de dias, em produtividade, em cada ano, devido a depressão, burnout ou ansiedade. Este impacto no trabalho é devastador e silencioso, levando a OCDE a estimar que as doenças mentais custem cerca de 4% do PIB em perda de produtividade e despesas de saúde. Note-se que, só a depressão moderada a grave representa mais de mil milhões de euros anuais, tornando-se um peso económico que não podemos ignorar.
Apesar da existência do Plano Nacional de Saúde Mental, a resposta púbica continua fragmentada, muito aquém das necessidades, com longas listas de espera, número de profissionais insuficientes e o investimento em prevenção residual. Muitas das medidas do Plano Nacional de Saúde Mental continuam bloqueadas devido à falta de financiamento e burocracias. Nada de novo no nosso país. Registe-se que, apenas 3% dos que pedem ajuda recebem acompanhamento terapêutico regular. Outra percentagem destes doentes, quando procuram ajuda em contextos médicos “particulares”, pagam pequenas fortunas em consultas, acompanhamento psicoterapêutico, acompanhamento psiquiátrico e terapias alternativas.
A preocupação com as infraestruturas como saneamento da rede pública, ETARs, vias de comunicação ou rede ferroviária, espaços verdes e habitação, são sem dúvida uma necessidade e um investimento de extrema importância para a população, mas a silenciosa saúde mental em Portugal, necessita de uma urgente mudança de paradigma, para que seja tratada como questão de Direitos Humanos, de produtividade e futuro coletivo, e não apenas como um problema periférico ou simplesmente clínico. Urge a necessidade de integrar o apoio psicológico nos cuidados primários, criar políticas laborais mais humanizadas e apoiar famílias e cuidadores que carregam o peso invisível da doença.
Não ter medo de falar da saúde mental é ter a coragem de perceber como a mesma é tratada pela sociedade que a cuida – ou abandona – os seus. O silêncio, esse, já é uma fatura demasiado pesada.
“Não deixe que a amargura do mundo lhe tire o seu sorriso. Escolha sempre colocar-se a si e a saúde mental em primeiro lugar e afaste-se de tudo que for tóxico.”
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