Causas verdadeiramente peregrinas

Não me passa pela cabeça que o senhor presidente da câmara não seja pessoa de bem. E porque é assim, com toda a certeza deu já ordens aos serviços para que lhe apresentem a conta do processo que moveu contra o Notícias de Famalicão (NF). Mário Passos perdeu, acontece. Agora é aguentar-se à bronca, que é como quem diz: que pague, que pague. Mas nós podemos dar uma ajuda.

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Um dia, era Verão, arrisco a dizer que a seguir ao almoço, ao senhor presidente da câmara deu-lhe a epifania. Porque descobriu a fórmula do ouro transgénico? A cura do emagrecimento sem dor? A solução para acabar com a fome no mundo?

Não, nada disso.

O que o indignou ao ponto de ficar com as ceroulas húmidas foi uma notícia de jornal. Deste, pois claro. Olha a surpresa.

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Isto porquê? Acaso chamaram-lhe aldrabão, acusaram-no de roubar a lua, de vender a mãe? Não. Trataram-no abaixo de Judas por eventualmente ser sócio do Sporting de Braga? Também não.

Estava o senhor olimpicamente indignado porque o NF noticiou uma viagem oficial, em viatura não oficial, acompanhado de outros dois respeitáveis senhores que eram parte interessada na demanda. A demanda: reunir com o senhor Secretário de Estado do Ambiente. O motorista ficou em casa – e sabe Deus o quanto Mário Passos ama um bom motorista! O curioso é que o vereador do Ambiente também ficou em casa.

Dava-se o caso, nesse mesmo dia, embora mais pela tardinha, de que o esperavam num compromisso publico cá pelo concelho e aos presentes Mário Passos deu-lhes uma seca bíblica, daquelas em que nem o pai morre, nem a gente almoça. Ninguém sabia de sua excelência.

Claro que bastaria a sua excelência cumprir com os mínimos de civilidade, uma vez atrasado, fazendo saber que se atrasava, e porque se atrasava. Mas não, não faz o género. Mário Passos gosta de cultivar a aura de insondável.

Com tudo isso, o jornal chamou-lhe viagem secreta. Podia ter-lhe chamado sigilosa, discreta, confidencial. Atento o critério noticioso, preferiu chamar-lhe secreta.

Aqui é que Mário Passos – já se vê que é homem de fraca imaginação – encalhou na pedra pomes. Podia achar-se favorecido no papel do agente misterioso que age pela calada em prol dos superiores interesses do município? Pois podia; é o que eu faria, de resto. Fez ele isso? Nahh… decidiu ver ali um ataque à sua honra.

Percebo que se tenha em tão grande conta, agora achar que uma viagem de trabalho vazada para a comunicação social configura um ataque de carácter… é que vou ali e já venho. Eu apenas observo: mas digam-me lá se este tipo de beligerância lúdica não é um fenómeno típico de corpos em acelerado estado de decomposição? Não me chame condensa que me põe tensa, lembra-vos alguém?

Estávamos, portanto, em modo susceptível feroz. Secreto, ora secreto: e o que querem eles dizer com isso? Ora, nada de especial. Nem tudo em Famalicão roda à sua volta, já devia sabê-lo. Tem até outubro para aprender, e vai ser à nossa custa.

Mas é sabido que os pequenos vultos encontram na vingança o seu primeiro consolo. Vai daí, o que faz o homem? Encheu-se de coragem e decidiu não se poupar a meios para repor a verdade histórica. Com o dinheiro dele? Homessa, não sabemos! Quer dizer, perguntaram-lhe, lá isso. E por várias vezes, na Assembleia Municipal inclusive. Debalde, o homem é um poço desprovido de sabedoria.

De maneira que se torna legítimo supormos que é com o nosso dinheiro que se repõem verdades históricas? Tem a palavra Mário Passos: até prova em contrário, diria que sim, podemos. Permitam-me então rectificar: decidiu não poupar nos meios públicos para orquestrar uma vendetta pessoal sem ponta por onde se lhe pague. Não é gralha…

Nisto, resultou a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão a tomar parte de uma campanha ad hominem (contra uma mulher, a senhora directora deste jornal) que mais não visava do que agastar e desgastar quem mais se atreve a praticar um módico de escrutínio sobre o exercício dos poderes públicos em Famalicão.

Fê-lo de duas formas: uma foi a queixa apresentada à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) por má conduta jornalística. Dizer que nem passou da antecâmara de apreciação. Era uma ideia peregrina e foi como tal liminarmente recusada. Primeira figurinha triste.

A segunda foi uma queixa-crime por difamação agravada para a qual foi agora emitido despacho de arquivamento. Tinha Mário Passos ordenado aos serviços jurídicos da câmara que instituíssem a acção em seu nome e comodamente constituiu-se assistente ao processo.

Lanço um repto ao leitor: de zero a dez, qual é o grau de coragem política que acha ser o mais adequado ao caso de um presidente de câmara que manda interpor um processo judicial por difamação agravada a alguém que considere um adversário, mas coloca-se a si mesmo como assistente ao processo, deixando para o município o papelão (e os encargos) do queixoso?

Vá lá, de zero a dez; onze não vale…

Aprofundemos. O que é que o ministério público apurou? Deu por provadas muitas coisas que faziam a notícia. A saber: que a reunião existiu; que a viagem foi em viatura particular; que seguiu acompanhado dos dois senhores citados, e que nenhum deles era o vereador do ambiente. Não deu por provado, conforme reiterava o queixoso/assistente, que a reunião versasse apenas sobre outros temas, igualmente caros aos presentes, que não o Eco Parque Tecnológico de Cabeçudos.

Dizer que é a segunda figurinha triste é pouco. Passar publicamente por mentiroso já é um ponto baixo na escada da vida de qualquer mortal; ser passado a ferro desta maneira nos fundamentos da sua argumentação por um procurador da República roça o descalabro emocional.

Posto isto, e aqui chegados: quero dizer que sou muito contra essa espécie de desporto nacional que trata de pisar em quem já está no chão. O Sr. Mário Passos foi ao tapete? É deixá-lo levantar-se. Usemos da magnanimidade que manifestamente lhe falta, pois só assim o ajudaremos a encontrar o recto caminho do serviço público.

Até porque o que se segue não será pera doce. Em primeiro lugar, vai o NF pedir a Mário Passos a indemnização que lhe cabe por motivo de acusação caluniosa? Não sei. É uma hipótese.

E se fosse apenas isso. Repare-se: como Mário Passos é uma pessoa honrada e zelosa do erário publico, com toda a certeza prepara-se para reembolsar o município das despesas incorridas com este caso estapafúrdio. Não duvido de que assim será, e se não duvido é apenas por isto: porque é do mais elementar senso comum.

Como é do mais elementar sentido de humanidade que nós, humildes cidadãos e contribuintes, nos solidarizemos com quem esteve mal, mas merece apesar de tudo uma segunda oportunidade.

Eis a ideia:

Encontram mais abaixo a ligação para uma página de crowd funding que foi criada aqui há tempos para apoiar causas verdadeiramente peregrinas:

Causas verdadeiramente peregrinas

Faça-se bom uso dela. Serviu no passado causas tão peregrinas como a da apanha do tremoço em fato macaco, a da terapia para arremessadores de anões ou a possibilidade de realização do compasso pascal em procissão motard.

Agora pode muito bem servir para apoiar Mário Passos a cumprir com uma eventual dívida ao município. Pode muito bem servir para ajudar Mário Passos a pagar uma eventual indeminização a este jornal por danos patrimoniais cessantes e ofensa ao bom nome.

Assim o queiramos todos (ou alguns apenas). Exorto quem queira contribuir para esta causa verdadeiramente peregrina. Um euro é quanto basta, se não quiserem dar mais. Talvez não consigamos fazer a diferença no mundo, mas podemos fazer a diferença na vida de um homem.

Bem hajam.

 

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