Luís pediu e o povo anuiu.
A crise do parágrafo guindou Luís Montenegro (LM) ao governo e aí continuará após este 18 de maio. Quase cem mil portugueses reforçaram essa vontade de deixar o Luís trabalhar.
Foi bom, mas não chegou. A desejada estabilidade governativa importante para o futuro do país, não fica garantida com esta “maioria maior”. O acréscimo de cerca de 10% e o aumento do número de mandatos revelam-se insuficientes para permitir uma governação autónoma. Os entendimentos vão estar na ordem do dia. Se à direita LM diz manter a linha vermelha do “não, é não”, terá de procurar no PS o interlocutor possível.
A vitória da AD, a subida vertiginosa do Chega e de Ventura, o débâcle do PS e a retirada de Pedro Nuno Santos (PNS) marcaram a noite eleitoral.
Umas eleições e dois funerais, o de Pedro Nuno Santos (PNS) e de Mariana Mortágua (MM). O terceiro pior resultado do PS empurrou PNS para a demissão e deixa MM em maus lençóis.
A nova arquitetura do hemiciclo tem novos inquilinos. O JPP, partido regional insular, conseguiu com 20 126 votos, 0,34%, eleger um deputado. Ora aqui está uma situação que nos deve merecer reflexão. O Bloco Esquerda com 119 mil votos elegeu também, tão só um deputado; o ADN, com 78 mil não teve direito a nenhum mandato.
Quase que começa a ser apetecível para os eleitores de alguns partidos, enquanto não existir um círculo de compensação, “emigrarem” cá dentro e constituírem, por exemplo, um Juntos Por Portalegre! Deve ser frustrante, face aos condicionalismos dos círculos eleitorais, ver um partido com pouco mais de 20 000 votos ter assento parlamentar e alguns outros com seis vezes mais, mas dispersos, elegerem exatamente o mesmo número de deputados. Preparemo-nos para a eventualidade de esta poder ser uma realidade em futuros atos eleitorais, fruto do número de eleitores de determinadas comunidades, sobretudo em zonas do interior ou em determinadas freguesias de centros urbanos.
Gostaria de aqui deixar duas notas: uma para o BE por ter sido a única força política a chamar à coação o problema vivido em Gaza. O que lhe poderia ter granjeado votos, embora sem relação direta, deixou-os também à beira do extermínio. A outra para o Livre que cresce como partido socialista democrático, não radical, ambientalista e europeísta.
Sendo o Chega o novo partido líder da oposição, urge refletir nas consequências que daí poderão advir.
A AD não capitalizou a perda do PS e o Chega conseguiu mais cerca de 175 000 votos (sem emigração), face a 2024. São já cerca de 1 350 000 eleitores que apostam nesta força política. E as razões, para lá do discurso populista, da ideia fácil e da mensagem conveniente, parecem óbvias: o cansaço, a saturação e crença em soluções imediatistas parecem estar a dar resultados. Explorou-se, quase à exaustão temas como a imigração, a segurança, a saúde, o RSI e o multiculturalismo (…). Conseguiu que se comece a entranhar o sentimento de que os portuguese parecem ser cidadãos de segunda no seu próprio país. O tom plástico, oportunista e teatral, mas de proximidade, de André Ventura, fizeram o resto.
AD queria ficar autónoma na governação e não conseguiu. Vai ter de decidir para onde se virar. A IL é uma carta fora do baralho. Vigorando o “não, é não”, o Chega fica a ver passar comboios. Resta o PS com a nova liderança. Teríamos uma solução germânica.
Há quem defenda no PSD uma solução com o Chega, mas não acredito num golpe palaciano, que retire LM de cena. A campanha e a vitória estiveram centradas no primeiro-ministro, na “montenegrizaçao” do partido e da política nacional e que parecem tornar-se o “farol” para os próximos anos.
Será mais fácil LM explicar alguma medida porVentura necessária, do manter-se intransigente no seu princípio e coerência, pois terá bem presente o custo pago por PNS.
A IL lançou para a mesa a questão da revisão constitucional. Há uma maioria constitucional (2/3 do parlamento) à direita. É de facto uma oportunidade única para ser feita à direita, mas não creio que seja premente. Prioritário será manter a lucidez, a clarividência e a sensatez para a nomeação daqueles que virão a integrar órgãos como o Tribunal Constitucional, os Conselhos Superiores de Defesa Nacional, de Informações e Segurança Interna. No entanto, gostava de ver concretizada a alteração do sistema eleitoral.
Há interrogações que ficam:
Que resultado terá o Chega nas autárquicas? Conseguirá traduzir em mandatos e em câmaras os 60 concelhos onde venceu? Por mera curiosidade, em Famalicão se os resultados das legislativas fossem reprodutíveis para as autárquicas, teríamos uma distribuição de 5 mandatos para a coligação, 3 para o PS e 3 para o Chega. Seria, 50 anos após o Verão Quente, o início do mandato mais surpreendente da democracia concelhia.
Que papel terá o próximo Presidente da República na estabilidade governativa? Conseguirá, como Marcelo, convocar 3 atos eleitorais em 4 anos, quando o deveriam ter sido em 12? Ou imprimirá outro tipo de soluções em caso de instabilidade? Luís Marques Mendes já defende a inclusão do Chega nas soluções a considerar.
Teremos novo folhetim na eleição do Presidente da Assembleia da República? Se a solução for idêntica à de 2024, será o Chega a presidir nos dois últimos anos?
De assinalar a saída daquele que foi um deputado de reconhecida qualidade, António Filipe, do PCP.
Por fim, votos de felicidades para as três deputadas famalicenses estreantes na Assembleia da República: Sofia Fernandes, Sandra Sousa Lopes e Lina Pinheiro.
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