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Quarta-feira, 18 Junho 2025
Susana Dias
Susana Dias
Socióloga, mestre pela Universidade do Minho, pós-graduada em Gestão e Administração em Saúde e apaixonada pela geriatria. É diretora clínica da Oldcare Famalicão.

O silêncio dos que envelhecem

Envelhecer não deveria ser sinónimo de medo, mas de reconhecimento e cuidado.

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Susana Dias
Susana Dias
Socióloga, mestre pela Universidade do Minho, pós-graduada em Gestão e Administração em Saúde e apaixonada pela geriatria. É diretora clínica da Oldcare Famalicão.

Famalicão

Na calçada da vida, os passos dos idosos vão ficando mais lentos. Não é apenas o corpo que cansa é o peso de uma sociedade que, muitas vezes, os esquece. Quando falamos de violência contra a pessoa idosa, não nos estamos apenas a referir às marcas visíveis. Há agressões que não gritam, mas ferem: o abandono, a negligência, a solidão imposta.

Dona Maria, 82 anos, vive sozinha num pequeno apartamento no centro da cidade. Tem três filhos, todos empregados, todos ocupados demais para uma visita. O frigorífico vazio e o telefone que nunca toca são formas cruéis de violência. E quem se importa?! A vida moderna apressa tanto os mais jovens que parece não haver tempo para o cuidado ao próximo. O idoso, que deveria ser fonte de sabedoria e respeito, é muitas vezes tratado como um fardo.

Em pleno século XXI, muitos idosos ainda enfrentam agressões físicas, psicológicas, negligência, abandono e até abusos financeiros. São feridas que não aparecem em radiografias, mas que gritam em olhares tristes e silêncios prolongados. E o mais alarmante é que muitas vezes, o agressor está dentro da própria família.

O Estatuto do Idoso existe, sim. Mas o papel não basta. É preciso vigilância, denúncia, ação. É preciso ouvir o idoso, respeitar a sua história, garantir a sua dignidade. Envelhecer não deveria ser sinónimo de medo, mas de reconhecimento e cuidado.

No dia 15 de junho, o mundo volta os olhos, ou pelo menos deveria, para uma realidade muitas vezes esquecida: a violência contra a pessoa idosa. É um problema silencioso, escondido dentro de lares, instituições e até mesmo nas ruas. E, como toda violência silenciosa, ela corrói lentamente a dignidade, a saúde e o espírito de quem já viveu tanto.

A data de 15 de junho não é apenas um dia no calendário. É um apelo urgente à consciência coletiva. É um lembrete de que envelhecer deveria ser um ato de respeito e reconhecimento, não de esquecimento e abuso

Precisamos de fazer mais do que campanhas ocasionais. É necessário formar profissionais, sensibilizar comunidades e criar mecanismos eficazes de denúncia e proteção. Mais importante ainda, precisamos aprender a escutar os nossos idosos, não apenas as suas palavras, mas os seus gestos e ausências.

Porque quem cala diante da violência também a perpetua. A sociedade que não cuida dos seus idosos nega o próprio futuro. Porque todos, se tivermos sorte, um dia chegaremos lá. E quando esse dia vier, que mundo teremos construído para nos acolher?!

 

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