Se na crónica passada referi a importância da poesia para o ensino e desenvolvimento das capacidades académicas (e pessoais) dos estudantes, nesta crónica pretendo comentar em específico como podemos envolver a poesia e ainda assim, envolver as outras artes no processo de ensino de uma língua estrangeira.
Talvez, para quem não saiba, todo o tipo de arte que um artista produz revela algo da sua personalidade, da sua vida, das suas experiências e consequentemente dos seus pensamentos e sentimentos sobre um contexto em específico. Por isso, a arte tem a capacidade de chegar a todos e tocar-nos de diferentes maneiras.
Vejo também que esta continua a ser desvalorizada pela maioria e muitos nem sequer apreciam ou sabem tecer a sua própria opinião sobre um determinado trabalho artístico. E no que isto está relacionado com o ensino, ainda por cima, de uma língua estrangeira?
A arte, na minha opinião, é a forma mais (in)direta de chegar às pessoas sobre qualquer assunto que queiramos abordar ou, neste caso, trabalhar numa aula com alunos.
Através de qualquer trabalho artístico podemos cativar, não só o interesse dos alunos mas também ter inúmeras possibilidades de atividades diferentes, dinâmicas e inovadoras que simultaneamente não só vão estar a trabalhar o idioma em si, mas também as capacidades pessoais do aluno, como por exemplo, a empatia pelo assunto em questão que se aborde, o respeito pela situação que se fale, a autonomia para investigar e criar algo desde a própria perspetiva deles, aumentar a capacidade para se comunicar em qualquer contexto, desenvolver a opinião crítica e fazer com que valorizem as diferentes perspectivas que se apresentem.
Estes foram alguns dos pontos mais importantes nos quais acredito que, enquanto docentes, devemos priorizar e trabalhar com os alunos.
Falo agora da minha experiência própria em que, nos inícios do mês de novembro, apliquei uma unidade didática sobre a ansiedade. Como vocês sabem, é um assunto cada vez mais atual e que merece a devida atenção, principalmente, na idade dos jovens que é onde pode começar a aparecer as chamadas “crises de ansiedade e pânico”.
Assim como a arte em geral, creio que há assuntos que são ainda ridicularizados e deixados de lado como é o caso da ansiedade. E dentro da vastidão de assuntos que poderia incluir na minha tese, decidi que um deles seria precisamente este. Não só por motivos pessoais, mas, porque me lembro claramente de quando passei por isto e me sentia totalmente paralisada e perdida no mundo, houve pessoas que me disseram que eu não tinha idade para me “preocupar em excesso” a ponto de ter tais crises. Isto é muito errado de se proferir e é neste ponto que banalizamos o assunto e os pensamentos e sentimentos dos outros.
Por essa razão, decidi criar atividades que fizessem com que os alunos se sentissem confortáveis para falar sobre tal, que pudessem ter o seu espaço para criar e expressar aquilo que pensam e sentem, e tudo isto, através de atividades em que a maioria delas incluía as artes. Tanto a música, como a literatura, a pintura e o desenho, e claro, a poesia como foco principal. Isto deu palco a criar um bom e divertido ambiente dentro da sala de aula em que, de facto, se podia notar o interesse dos alunos em realizar tais atividades.
Mais importante do que isto que acabo referir é que, após as duas aulas sobre a unidade didática, os alunos responderam através de um simples questionário a algumas questões sobre o que se trabalhou e, de como isso foi ou não vantajoso para eles, ao que passo a citar uma resposta em particular (traduzida para o português): “Através das aulas vi a poesia de uma maneira diferente porque não se deu de uma maneira que se aborda normalmente nas escolas, já que a maioria das vezes se impõe a leitura e uma só interpretação, fazendo que essa seja a única possibilidade e que todas as outras estejam erradas. Por um lado, pudemos expressar as nossas opiniões sem nenhum tipo de pressão e além disso, fizemo-lo de uma forma mais interativa, através de várias atividades, música e vídeos que fizeram a aprendizagem muito mais interessante e atrativo, fazendo também de melhor compreensão. Além disso, o facto de tratar de um tema da atualidade, da qual se fala constantemente, junto com a literatura, um tema com opiniões controversas, ajudou a vê-la com outros olhos e a entendê-la melhor”.
Para finalizar, cheguei também a uma conclusão sobre isto, é que, mais importante que falar sobre (que é bastante importante), também é igualmente essencial, ouvir. Saber escutar o que os outros também têm para nos dizer.
Creio que, com todos estes aspetos que referi, estaríamos, sem dúvida alguma, a formar de facto, cidadãos, e não só alunos que absorvem e devoram conteúdos apenas porque é isso que se pede para um exame que, em nada mostrará o que eles realmente valem. Ao mesmo tempo que se daria prestígio às várias artes e se trabalhava as competências do idioma (compreensão, audição, interação, escrita) e as competências de cidadania dos estudantes (empatia, respeito, autonomia, liberdade de expressão).
A arte além do seu poder de revolucionar mentalidades, também pode (e deveria) ser utilizada como um mecanismo de aprendizagem, neste caso, não só com o objetivo de formar alunos aptos para aplicar conhecimento, mas também cidadãos conscientes da nossa sociedade.
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