Aos 25 minutos do dia 25 de abril de 1974, foi anunciada “Grândola, Vila Morena”, como forma de confirmação que a revolução seria naquele dia. E o resto? O resto é a história do dia mais ansiado pela população que vivia acorrentada a um regime que a privava do bem mais precioso que a um ser humano pertence: a liberdade.
Celebrar abril é celebrar também a expressão artística e o livre-arbítrio para a produzir em pleno, sem o receio do lápis azul da censura. Foram vários os artistas que se viram presos aos ideais do regime, a quem lhes foi tirada a oportunidade de poder exprimir em pleno as suas angústias, críticas e opiniões, através das letras das suas músicas.
Antes do dia da Revolução dos Cravos, já às 22h55 de 24 de abril soava “E Depois do Adeus” de Paulo de Carvalho, na Rádio Emissores Associados de Lisboa, como primeira senha de que a luta estava para sair à rua. No dia seguinte, a música que se tornou no hino deste dia dava o mote para que os soldados ocupassem os pontos estratégicos do país. Nas horas seguintes, a ditadura caiu.
E porque a guerra não se faz só através de armas, mesmo quando elas são munidas de cravos em vez de balas, encontramos na música a chave para o desencadear da revolução. Chamada música de intervenção, engloba uma série de letras de caráter popular, compostas com o objetivo de chamar a atenção do ouvinte para determinados problemas do país, sejam eles de origem social, política ou económica. Letras essas que na sua maioria trazem consigo mensagens escondidas nos seus versos, para que possam ser passadas para a população sem que o regime entenda de forma clara aquilo que está a ser dito.
Era um tipo de música muito comum nos últimos anos do Estado Novo e são muitos os cantores que até hoje ecoam nas rádios de todo o país neste dia. Há que destacar Zeca, talvez o maior símbolo da resistência antissalazarista da época, a voz da esperança e o apelo à mudança.
Também José Mário Branco, perseguido pela PIDE, autor da famosa “FMI”, obra sumária do movimento revolucionário português. Sérgio Godinho, Fernando Tordo, Paulo de Carvalho, Luís Represas. Nomes que não podem ser nunca esquecidos por quem lhes deve um bocadinho da liberdade que temos hoje.
Se hoje nos é concedida a oportunidade de ouvir e ver tudo aquilo que queremos, também se deve a eles. A estes músicos, que mesmo perseguidos, mesmo sob o olhar de uma polícia impiedosa, não deixaram nunca de fazer música e de lutar para que Portugal fosse um país livre.
Já dizia Ary dos Santos no seu poema “Portas que Abril Abriu”: “Era uma vez um país/ onde entre o mar e a guerra/ vivia o mais infeliz/ dos povos à beira terra”. Que nunca sejamos capazes de deixar murchar o cravo que abril floriu, que os Vampiros não voltem a assombrar o nosso país e que tenhamos sempre Grândola, onde reina a igualdade e onde o povo é. sempre, quem mais ordena.
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