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Domingo, 28 Abril 2024
Rui Costa
Rui Miguel Costa é formado em Engenharia e Gestão Industrial pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto. Gestor em áreas de desenvolvimento, é apaixonado por música, engenharia, economia, inovação e empreendedorismo.

Semana de quatro dias de trabalho: futuro necessário ou narrativa destrutiva?

Existem vários ângulos para abordar o tema e são todos igualmente legítimos. Como todos os bons desafios, este tema deve ser encarado de mente e espírito aberto.

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Rui Costa
Rui Miguel Costa é formado em Engenharia e Gestão Industrial pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto. Gestor em áreas de desenvolvimento, é apaixonado por música, engenharia, economia, inovação e empreendedorismo.

Famalicão

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Discutido em sede de Concertação Social, o modelo da semana de 4 dias de trabalho é, certamente, um dos temas mais debatidos da atualidade e que mais controvérsia cria na esfera empresarial em Portugal.

Sem qualquer rodeio, admito que este assunto é difícil. É de difícil avaliação, exige mudança abrupta de uma realidade instituída há décadas e de que não estou certo de que esteja errada ou que precisa de uma mudança. Este artigo visa desmistificar um pouco este tema e contextualizá-lo na realidade portuguesa, tendo em conta que já temos várias experiências com este novo modelo de trabalho semanal a decorrer, diversas empresas espalhadas pelo mundo já trabalham desta forma e no decorrer da segunda metade do próximo ano, acredita-se que muitas outras empresas irão testar.

Existem, de facto, vários ângulos para abordar o tema e são todos igualmente legítimos. Por um lado, podemos afirmar que esta mudança, poderá por fim, elevar Portugal enquanto referência e modelo a seguir no mercado de trabalho, suscitando o interesse de empresas tecnológicas e de serviços a investir no nosso país. Pequenas mudanças e melhorias nas nossas condições laborais iriam ajudar, entre muitas outras coisas, a reter o nosso talento. Hoje, grande parte dos nossos jovens, procuram carreiras, sejam elas especializadas ou não, fora de Portugal e este tipo de medidas pode mudar esta narrativa.

Por outro lado, sempre que leio sobre este tema, e faço-o com frequência, fico com a sensação de que ninguém reflete sobre a realidade empresarial portuguesa, sobre os efeitos negativos desta medida, mas muito menos nas pessoas. Ninguém refere, reflete ou apresenta um plano para prevenir uma possível e injusta distinção entre operadores de produção e administrativos, criando quase classes de primeira e de segunda. A narrativa do governo português, como na maioria dos assuntos em que se envolve, leva-me a crer que o tema não é bem pensado nem delineado e tão pouco prevê um bem comum.

Infelizmente, grande parte da comunicação social e do governo tendem a fazer um esforço, muitas vezes com sucesso, para marginalizar os empresários e demonizá-los, retratando esta classe como indivíduos desumanos, perversos e cruéis que não conseguem pensar nos seus colaboradores a não ser de uma forma vil. Contudo, este mesmo governo e comunicação social forçam, talvez sem intenção, a segmentação de pessoas e empregos de uma forma que não se vê há décadas.

Um tema como este, por si só, levanta questões que exigem resposta, e não podemos ficar de braços cruzados à espera de que se respondam sozinhas. Devemos ser intransigentes, mas abertos a todo o tipo de resposta. Devemos começar por questionar se, efetivamente, este é um modelo rígido que pode ser adotado por todos os tipos de indústria. E se não for, questionar se o tecido empresarial português não toma já medidas para ir ao encontro das necessidades dos trabalhadores. Estou certo de que muitos não!

Irá criar mais desigualdade entre funções e sectores dentro da mesma empresa? É efetivamente fácil e realista a implementação deste modelo ou simplesmente vamos ter quatro dias por semana sobrecarregados porque os nossos clientes e mercados procuram-nos pela nossa capacidade de resposta?

Irá a felicidade de alguns departamentos dentro das empresas ser maior que o descontente criado pela dita “desigualdade”?

Existirão formas de balancear e amenizar esta diferença?

O que implica esta mudança de paradigma?

É importante avaliarmos situação caso a caso, mas também como um todo, abraçando e não descurando o que é a grande parte do tecido empresarial, a indústria transformadora. Indústria essa que conta com empresas portuguesas e multinacionais em ramos tão específicos como a precisão ótica, eletrónica, plásticos, têxtil e calçado, que dão resposta às necessidades de variadíssimos sectores, desde o automóvel ao alimentar.

Mas por que motivo Portugal é este HUB industrial? Quais as razões para sermos tão procurados? A resposta é simples: a boa localização, mão de obra acessível e flexibilidade produtiva portuguesa.

Portugal e os portugueses tem centrado em si uma cultura de trabalho, de saber fazer, abundância de recursos e o otimismo necessário para encarar todos os projetos como o mais importante. Aliado a isto, temos um altíssimo nível de engenharia com vontade de inovar, o que torna o nosso país único. Se nos focarmos somente nesta receita que tornou e continuar a tornar Portugal tão apetecível, não é assim tão claro, e parece-me genuinamente difícil, fazer uma ligação direta a um modelo da semana de quatro dias de trabalho. Contudo também assumimos que esta receita é o que faz com que Portugal tenha dificuldade em reter talento.

Ainda que na atualidade, comece a ser muito próprio do nosso país a entrada de empresas tecnológicas multinacionais ou criação de empresas de capital puramente português, que fogem à dita regra de uma típica empresa de produção, o PIB português ainda é na grande maioria dependente da produção de bens.

Acredito que se fossemos um país dependente de serviços e com produções descentralizadas, como Suíça, Dinamarca, Suécia e grande parte dos nossos modelos empresariais fossem deste cariz, software como serviço, o caminho seria bem mais simples e menos sinuoso. Isto porque o trabalho por si cria uma facilidade de horário de trabalho e trabalho deslocalizado que viabiliza este tipo de iniciativas.

Contudo a nossa realidade é diferente!

Para tentar entender a perceção e abertura do sector privado a esta iniciativa foram realizados vários inquéritos. A AEP, que recebeu mais de 1000 respostas a um inquérito sobre este tema, partilha que quase 50% dos inquiridos acha a medida mais benéfica para o trabalhador do que para a empresa e um número similar acha que nenhuma das partes é beneficiada.

Podemos, no mínimo, afirmar que esta medida é recebida com bastante ceticismo quanto à sua aplicabilidade em diversos sectores. Talvez pelas razões acima referidas!

A verdade é que o que será de Portugal e dos portugueses se começarmos a produzir menos?

Porque em boa verdade, é isso que está implícito, uma redução de horário implica diretamente uma baixa na produção, menor capacidade de resposta com mercados trabalham certamente 5, 6 ou 7 dias. Ou então poderá implicar o aumento de turnos rotativos que, consequentemente, leva à contratação de mais recursos humanos e por si um aumento do preço final e/ou menores margens de lucro e crescimento sustentável.

Estamos dispostos a baixar significativamente o nosso PIB? Estamos dispostos a arriscar que as grandes empresas deixem de ver Portugal como um país a investir e abrir grandes unidades graças à sua excelente produção?

Não consegue Portugal sustentar estes dois mundos e ser um HUB tecnológico e industrial?

Creio que o caminho possa ser por vezes ser mais simples que o que parece. Acredito no fundo que existem várias formas de abordar o tema e admito que, nós, portugueses, conseguimos ser geniais a inventar cenários intermédios e planos B, C e D. Porém, o que a mim, enquanto mero espectador, me choca é a forma leviana como este assunto é tratado e incutido na sociedade. A narrativa que existe de querer que Portugal seja um país moderno, esquecendo claramente o que nos trouxe até aqui e ainda nos pode levar mais longe.

Admito que este tema é desafiante, e como todos os bons desafios certamente deve ser encarado de mente e espírito aberto, mas mais do que isso, deve ser tratado com pinças, com o maior cuidado possível e a pensar num bem comum e não individual.

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Rui Miguel Costa é formado em Engenharia e Gestão Industrial pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto. Gestor em áreas de desenvolvimento, é apaixonado por música, engenharia, economia, inovação e empreendedorismo.
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