Se me dissessem vamos falar de IRS – confesso – dizia, de imediato, sem querer ouvir mais nada, que isso é com a Paula, a competentíssima e insubstituível Senhora Finanças da minha vida. Mas, claro, não venho aqui falar da minha contabilidade nem da minha extraordinária contabilista.
Se, por outro lado, me dissessem vamos falar de IRS com amor e carinho, talvez parasse para ouvir. Talvez. Quase de certeza que sim. Pela estranheza causada no meu mundo de palavras. Quanto mais não seja, por tais vocábulos me soarem verdadeiramente antagónicos, num discurso que se quer escorreito. A minha intenção é essa. Que, pelo menos, leiam até ao fim e, depois, fiquem a pensar no assunto. Que, em última instância, ajam. Porque não custa mesmo nada. É uma questão de informação, vontade e, evidentemente, ação solidária.
Em época de acertar o passo com as Finanças, entregar aquela papelada toda, ainda que eletrónica, cheia de algarismos e cruzes aqui e acolá, pensemos. E, por isso, parece-me útil abordar a questão. Tal como eu, já repararam que, por diversas vias, nos chegam mensagens mais ou menos criativas, mais ou menos claras a solicitar que consignemos, doemos, demos – não importa o verbo – 0,5% do nosso IRS a alguma entidade particular de solidariedade social, religiosa ou de utilidade pública.
Este ano, a lista, disponibilizada pela Autoridade Tributária, conta com 4.399 entidades autorizadas a fazerem este apelo aos contribuintes portugueses. A mim, por e-mail, já me chegaram algumas. Também já ouvi anúncios radiofónicos e, há nove anos, dei conta de uma causa que me tocou particularmente. Foi aí que, pela primeira vez na vida, pensei no IRS com amor e carinho. E reparei como, afinal, essas palavras combinam tão bem.
Acontece assim. Estas organizações, geralmente atuantes na esfera da economia social, andam a duas velocidades distintas. Umas têm um excelente poder de comunicação, forma de acionarem campanhas, frequentemente pro-bono, o que se traduz numa mais-valia incontestável, fazendo ouvir-se nos órgãos de comunicação social e outros canais. Outras, não têm sequer um sítio na internet, o que lhes retira visibilidade e poder de passarem a sua mensagem com eficácia e eficácia. Eu diria, exagerando, que a falta de um site lhes retira até a existência. E ninguém ajuda quem não existe.
Vamos ao que interessa: para que estas organizações possam beneficiar desta doação, basta preencher o quadro 9 do anexo H com o nome da instituição e o respetivo NIPC (Número de Identificação de Pessoa Coletiva) e, desta forma, atribuir, sem nenhum, rigorosamente nenhum encargo para si, uma pequena fração do seu IRS, dando o seu contributo para que a organização escolhida cumpra com a sua missão. E, a maioria, tem missões nobilíssimas.
Imagine que são apenas 0,5% de todo o amor e carinho que tem para dar. Muito pouco, não é? E sem encargos adicionais nem danos emocionais de nenhuma espécie. O mais que lhe pode acontecer, é sorrir sozinho. Aumentar os níveis de triptofano, rumo à sensação de bem-estar. Ou, por momentos, consentir que o seu modelo de IRS é um modelo de virtude. Experimente. Não custa mesmo nada. E pode fazer a diferença na vida de muitas organizações.
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