Um dos passeios mais agradáveis que o visitante pode fazer em Coimbra é percorrer parte dos 13 hectares doados por frades beneditinos para que o Marquês de Pombal instalasse, em 1772, o Jardim Botânico, com o objetivo de complementar estudos e pesquisas sobre História Natural e da Medicina dos alunos e professores da Universidade de Coimbra. Eu diria até que é uma visita obrigatória especialmente porque a entrada é gratuita.
Logo que se entra, pelo portão principal nos Arcos, à direita temos a imponente Estufa Tropical, que começou a ser construída em 1855 para abrigar o cultivo de plantas de climas os mais diversos. Em 2013, foi dado início ao trabalho de requalificação do Jardim Botânico em seguimento à Universidade de Coimbra ter sido declarada Patrimônio Mundial da Unesco. Cinco anos depois, em 2018, a estufa reabriu as portas. E em grande estilo.
Encontramos, logo à entrada, diversas espécies de orquídea. Depois ficamos maravilhados com o maior nenúfar do mundo, a Victoria cruziana, originária do Rio Amazonas. As folhas podem atingir até 2 metros de diâmetro e suportar cerca de 30 kg na sua superfície. Suas flores são perfumadas e exuberantes, mas duram apenas 48 horas, sendo brancas no primeiro dia e rosa-púrpura no segundo e último dia.
A ligação do Jardim Botânico com os estudantes da UC é tão profunda que tem até uma espécie que os lembra é chegada a hora de dedicar-se aos estudos porque os exames estão a se aproximar. É a Árvore do Ponto, nome carinhoso dado ao Tulipeiro da Virgínia, originária dos Estados Unidos, cujo nome científico é Liriodendron Tulipifera, e pode chegar a 30 metros. Com flores amareladas e exuberantes, a árvore floresce entre finais de abril e começo de maio, época que precede os exames, que eram conhecidos como ponto, no início do século 20.
Particularmente, a parte Jardim Botânico de Coimbra que mais gosto é a da Mata Aberta, que ocupa dois terços da área total do jardim e foi reaberta para visitação pública no verão de 2017, depois de muitas décadas fechadas. Com a reabertura, foi introduzido um serviço para estimular a visitação de quem tem pouco tempo ou simplesmente prefere o conforto de ser transportado mecanicamente: dois miniautocarros híbridos percorrem toda aquela área em seu trajeto de ligar a Baixa e Alta.
É na Mata que encontro meu refúgio em geral. Mas em um espaço ainda mais particular: no bambuzal, que ocupa um hectare da Mata, datando de 1852. É chamado de “Catedral do Bambu”. A zona do bambuzal abriga um pequena capela, dedicada a São Bento, inicialmente uma casa de fresco do século XVII que foi adaptada a local de oratória na época dos frades Beneditinos.
Há vários tipos de bambu na Mata, de diferentes regiões da China. O que ocupa mais espaço é o bambu-gigante, verde-escuro, liso, brilhante, podendo chegar a oito metros de altura e seus colmos – ou canas – a ter 10 centímetros de diâmetro. Há ainda o bambu-negro, que chega a atingir, no máximo, sete metros, e ainda o bambu-quadrado, que, ao contrário dos outros, tem espinhos nos nós.
São várias as lendas sobre o bambu. Há uma lição que sinceramente não sei se é lenda ou realidade. Diz-se que leva cinco anos para a semente desabrochar, pois neste período o crescimento é subterrâneo, com sua raiz tornando-se uma maciça e fibrosa a estender-se vertical e horizontalmente sob o solo. É somente ao final do quinto ano que a parte externa emerge a uma velocidade espantosa e logo chega a ter 25 metros de altura.
O bambuzal do Jardim Botânico de Coimbra é meu lugar favorito, especialmente quando preciso reencontrar meu equilíbrio emocional. Há mais de 15 anos que bambus me inspiram na construção de minha resiliência. Sempre tive um pé de bambu-mosso na minha varandinha e dei presente a várias pessoas. Ele é bem mais fininho e não cresce muito. A inspiração é em razão de uma das principais características da planta: enverga, mas não quebra.
O bambuzal do Jardim Botânico é diferente: bem mais alto e bem mais calibroso. Sorte minha, toda vez que fui lá, talvez devido ser muito cedo, sou a única humana em busca daquela força verde. Ao me enfiar pelos caules e passar minhas mãos pelos colmos peço-lhes que transfiram para mim a capacidade curvar-me e ser flexível em tempos de ventos severos, sem que eu venha a partir-me ao meio. O curvar-se pode ser visto também como prática de humildade, ao reconhecer que as manifestações da natureza precisam ser respeitadas.
(A autora escreve em português do Brasil)
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