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Sábado, 4 Maio 2024
Dina Coelho
Residente na freguesia de Bairro, é filha de pais surdos e intérprete de língua gestual portuguesa (LGP). Exerce a profissão de intérprete de LGP desde 2015, em vários contextos, mas essencialmente no âmbito educativo. É coautora do livro Por Amor e mestre em gerontologia. Atualmente pertence aos órgãos sociais da Associação de Tradutores e Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (ATILGP) e da Associação de Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos (ASASM).

Celebrações eucarísticas com interpretação em Língua Gestual Portuguesa

Interpreto a eucaristia dominical desde 2016, uma vez por mês, na RTP1, e sei da importância da acessibilidade para a pessoa surda em contexto religioso. Por isso decidi dar a conhecer projetos de interpretação em Língua Gestual Portuguesa de celebrações eucarísticas. São muito interessantes e deveriam ser replicados por todo o país.

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Dina Coelho
Residente na freguesia de Bairro, é filha de pais surdos e intérprete de língua gestual portuguesa (LGP). Exerce a profissão de intérprete de LGP desde 2015, em vários contextos, mas essencialmente no âmbito educativo. É coautora do livro Por Amor e mestre em gerontologia. Atualmente pertence aos órgãos sociais da Associação de Tradutores e Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (ATILGP) e da Associação de Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos (ASASM).

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Inicio este novo ano, a apresentar-vos três ótimos modelos de acessibilidade para a pessoa surda em contexto religioso. Este é um contexto que me é familiar, pois interpreto a eucaristia dominical desde 2016, uma vez por mês na RTP1, e por isso decidi dar a conhecer estes projetos de interpretação em Língua Gestual Portuguesa de celebrações eucarísticas, todos eles muito interessantes e que deveriam ser replicados por todo o país.

Para isso tive a colaboração das 3 equipas de intérpretes dos respetivos projetos: Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Basílica dos Congregados e Paróquia de Telheiras – Igreja de Nossa Senhora da Porta do Céu, aos quais agradeço. Vamos conhecê-los.

 

1. Como e quando a equipa de Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (ILGP)?

Equipa ILGP Santuário de Fátima: “A acessibilidade que se vive atualmente no Santuário de Fátima teve o seu início no ano de 2013, após algumas iniciativas levadas a cabo pela Associação de Surdos da Alta Estremadura (ASAE), em Leiria, alguns anos antes. Uma dessas iniciativas foi organizada no ano de 2006 – I Peregrinação Internacional de Peregrinos Surdos a Fátima. Assim, aquando da realização da Peregrinação, a interpretação para LGP realizada por dois intérpretes foi projetada num ecrã gigante, a par com a legendagem, contemplando todos os momentos religiosos que aconteceram durante o dia. O sucesso desta iniciativa foi o mote para a interpretação de eucarístias que se iniciou depois no município de Leiria e que atraiu um grande número de fiéis surdos provenientes de vários locais. O interesse e participação das muitas pessoas surdas católicas que se deslocavam mensalmente a Leiria para assistirem à missa interpretada e o sucesso da Peregrinação de Surdos que aconteceu posteriormente em 2011, em Fátima, proposta pela ASAE e organizada pelo Santuário, culminou numa missa interpretada para LGP e fez com que o projeto ganhasse assento em Fátima. Em 2013, foi então desencadeada a transição do projeto da Sé de Leiria para a Basílica da Santíssima Trindade. Desde então um grande trabalho de reflexão, discussão e uniformização tem sido feito pelos elementos que constituem a equipa de intérpretes, que se reúnem periodicamente, em estreita cooperação com o Santuário de Fátima, que disponibiliza os esclarecimentos necessários, de âmbito religioso, preparando formações para o efeito, por forma a colmatar os desafios e dificuldades sentidos na interpretação deste contexto específico.”

Equipa ILGP Basílica dos Congregados: “A celebração eucarística com interpretação em língua gestual portuguesa na Basílica dos Congregados, em Braga, iniciou-se a 30 de outubro de 2016. Todos os domingos, às 12h, a comunidade católica surda conta com a presença de um intérprete de LGP. Além do domingo, nos feriados religiosos e nos tempos fortes da Igreja Católica, Natal e Páscoa, a interpretação gestual destas celebrações são também, asseguradas pelo grupo de intérpretes.

Esta sensibilidade em acolher e convidar a comunidade surda a participar nas Missas surgiu por parte do reitor da Basílica dos Congregados, Pe. Paulo Terroso, que contactou a Associação de Surdos de Braga, que por sua vez facultou um contacto de uma das colegas da equipa de intérpretes de LGP.”

Equipa ILGP Telheiras: “Desde março de 2019 que a Paróquia de Telheiras – Igreja de Nossa Senhora da Porta do Céu – conta com interpretação da eucaristia dominical para Língua Gestual Portuguesa. A iniciativa replica um modelo já existente no Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima (SNSRF), considerada uma referência de plena acessibilidade que permite que a Comunidade Surda portuguesa possa participar ativamente nas eucaristias.

Ciente da existência, no concelho de Lisboa, de Pessoas Surdas das diversas faixas etárias que gostariam de participar nas eucaristias e praticar a Fé Cristã, este projeto foi apresentado à Paróquia de Telheiras, representada pelo Sr. Padre João Pimentel, que demonstrou, desde logo, bastante interesse e motivação em aplicar este projeto e apresentou desde logo a sua disponibilidade de forma a proporcionar todas as condições necessárias para a concretização do mesmo. O projeto teve início a 24 de março de 2019. Numa primeira fase, as missas com interpretação para LGP foram realizadas apenas uma vez por mês. No entanto, desde dia 1 de setembro de 2019 todas as missas dominicais das 10h têm interpretação para LGP.”

 

2. Quantos intérpretes fazem parte do projeto?

Equipa ILGP Santuário de Fátima: “Atualmente, a equipa de intérpretes de Fátima conta com a presença de doze elementos que rotativamente garantem a acessibilidade das eucaristias, todos os domingos e feriados religiosos, às 15h, Tríduo Pascal e Celebrações Aniversárias nos dias 12 e 13 de maio a outubro.”

Equipa ILGP Basílica dos Congregados: “Inicialmente o grupo começou com cinco intérpretes e atualmente, conta com quatro intérpretes que revezam entre si todos os momentos eucarísticos. Quando a equipa de intérpretes iniciou este serviço procurou conhecer o vocabulário utilizado, os gestos existentes, combinou formas de interpretação gestual do ritual da Missa e contactou com pessoas surdas, Padres, grupo coral, pessoas formadas em Ciências Religiosas para debater e esclarecer alguns conceitos essenciais para desempenhar com rigor e profissionalismo a nossa função. Previamente estudamos as leituras e cânticos da eucaristia que nos compete interpretar, de forma a prepararmos o nosso trabalho.”

Equipa ILGP Telheiras: “A equipa de Interpretação para Língua Gestual Portuguesa (ILGP) de Telheiras é constituída atualmente por 7 intérpretes de LGP. Semanalmente dois elementos participam na cerimónia eucarística interpretando, respetivamente, as palavras do Presidente e as respostas da Assembleia, permitindo a tradução integral da missa.”

 

3. Há muita adesão por parte das pessoas surdas?

 Equipa ILGP Santuário de Fátima: “É frequente ver um grupo de surdos católicos praticantes assíduos e um variável número de peregrinos surdos que se deslocam ao Santuário, sendo muitos os momentos que marcam a acessibilidade que se vive em Fátima e que são incentivados nos convites à participação na vida do Santuário, por parte do Sr. Reitor Pe. Carlos Cabecinhas, onde é acautelada a interpretação para LGP. Estes momentos caracterizam-se também pelo feedback e participação ativa das pessoas surdas quando oram e/ou cantam em LGP; na participação das peregrinações anuais da Comunidade Surda; nos mistérios rezados em LGP aquando as celebrações aniversarias; e mais recentemente numa leitura realizada em Língua Gestual Portuguesa, que ante um sem número de pessoas ouvintes na Basílica da Santíssima Trindade, cativou a atenção de todos os presentes pelo silêncio que se instalou, arrepiando pelo exemplo de sensibilidade manifesto pelo Santuário que não deixa ninguém de fora na prática da fé cristã.”

Equipa ILGP Basílica dos Congregados: “Antes da pandemia, participavam entre 15 a 20 surdos, de várias faixas etárias, nas celebrações eucarísticas e atualmente, devido aos receios de contágio do vírus o número de participantes surdos reduziu, contando com a presença de 5 a 10 pessoas surdas.

A grande adesão por parte da comunidade surda em participar nas Missas e o interesse destes em querer conhecer mais Jesus e a aprofundar a Fé, levou à criação da catequese para adultos surdos. Iniciando-se a 24 de fevereiro de 2018, ao sábado de duas em duas semanas, culminando mais tarde no Sacramento da Confirmação (Crisma). Atualmente, a comunidade católica surda continua a participar nas sessões de catequese, com a frequência de uma vez por mês. Esta iniciativa é também assegurada por intérpretes de LGP.”

 

4. Que aspetos gostavam de destacar no trabalho que têm realizado ou desafios que têm sentido?

Equipa ILGP Basílica dos Congregados: “Este projeto tem sido bastante gratificante para o grupo de intérpretes de LGP, quer pelo frequente contacto que temos com esta comunidade católica surda, quer pela experiência, vivência e crescimento na fé que presenciamos em cada pessoa surda.

A maior dificuldade sentida nesta área é a carência de gestos no âmbito religioso.Outras dificuldades foram surgindo ao longo destes anos, como por exemplo: um palanque para o intérprete ficar mais elevado, de forma a comunidade surda conseguir ver a interpretação gestual deste profissional; uma estante para o intérprete colocar as folhas com as leituras e cânticos da Missa, de forma a ajudar à interpretação gestual. Aspetos estes que foram colmatados aquando solicitados ao reitor da Basílica dos Congregados.

Um dos grandes desafios enfrentados com a pandemia, foi quando as Missas foram suspensas presencialmente e passaram a ser feitas online pelo canal do YouTube da Arquidiocese de Braga. A comunidade católica surda ficou sem acesso às Missas Dominicais e muitas pessoas surdas manifestaram alguma tristeza por deixarem de ter este momento de expressão de Fé. A equipa de intérpretes não ficou indiferente a esta situação e em conjunto com o Pe. Paulo tentámos encontrar uma solução para dar resposta à comunidade surda. E assim através da plataforma Zoom, o intérprete interpretava a Missa que estava a ser partilhada online ao domingo, enviando um convite ao grupo de surdos que já participavam nas Missas presenciais e também, a outras pessoas surdas que tinham tido conhecimento desta iniciativa.”

Equipa ILGP Telheiras: “Como aspetos positivos destacamos a modalidade de interpretação a pares que permite uma perceção clara, distinta e integral de todos os momentos da Eucaristia. Destacamos igualmente a boa articulação entre a equipa de ILGP, a Paróquia e o coro, que faz com que tenhamos atempadamente acesso aos cânticos, orações e homilia. Como aspetos menos positivos destacamos os períodos de confinamento em que nos tivemos que adaptar e traduzir as missas através de plataformas online, deixando a modalidade de interpretação a pares durante esse período.”

Equipa ILGP Santuário de Fátima: “Consideramos esta realidade inovadora, acessível e com uma dinâmica sem precedentes em Portugal, gradualmente, esta realidade foi-se replicando noutros pontos do país e o trabalho produzido foi disseminado, processo que foi natural, não só pela projeção que o trabalho em Fátima foi tendo mas também por na génese desses novos núcleos estar pelo menos um elemento da equipa de Fátima. Esse facto foi determinante para que o modelo estabelecido fosse implementado e as orações interpretadas para LGP reconhecidas e padronizadas. São exemplos dessa rede o serviço de interpretação realizado na Igreja matriz de Santa Cruz da Lagoa, nos Açores, desde 2017; na Igreja de São José, em Coimbra, durante o ano de 2018; no ano seguinte e até ao momento, na Igreja de Nossa Senhora da Porta do Céu, na paróquia de Telheiras, em Lisboa.”

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Residente na freguesia de Bairro, é filha de pais surdos e intérprete de língua gestual portuguesa (LGP). Exerce a profissão de intérprete de LGP desde 2015, em vários contextos, mas essencialmente no âmbito educativo. É coautora do livro Por Amor e mestre em gerontologia. Atualmente pertence aos órgãos sociais da Associação de Tradutores e Intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (ATILGP) e da Associação de Surdos de Apoio a Surdos de Matosinhos (ASASM).
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