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Sábado, 27 Abril 2024
Laurisa Farias
Jornalista brasileira a viver em Coimbra, Laurisa gosta de ouvir e contar estórias. Escreve no dia 6 de cada mês.

Estou-me nas tintas, pero no mucho

Portugal é um país muito rico em expressões idiomáticas. A minha favorita é “estou-me nas tintas”. Estou perdida de amores por uma que aprendi recentemente: De Espanha, nem bom vento nem bom casamento.

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Laurisa Farias
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Famalicão

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Logo que chego num país presto especial atenção àquelas falas que, geralmente, não são ensinadas nos cursos de línguas, que, corretamente, concentram-se em ensinar vocabulário – e ampliar o arsenal de palavras dos estudantes mais avançados – e explicar as suas estruturas gramaticais. São falas que contêm palavras que conhecemos, uma por uma, mas que, juntas, aparentemente não fazem o menor sentido. Para quem acaba de chegar, uma vozinha lá dentro sussurra: o que estão a dizer? Eu sei o que significa cada palavra que estão falando, mas não estou entendendo nada! Refiro-me às expressões idiomáticas de cada país.

Recorro ao belo trabalho sobre as emoções nas expressões idiomáticas de Cristina Draghici: “expressões idiomáticas são consideradas pertencentes a herança linguística e cultural de um povo porque cristalizam na língua experiências e maneiras de ver o mundo que são típicas deste povo (…) e apresentam um grau de dificuldade elevado para os falantes, aprendentes de uma língua estrangeira” – sim, Português é também minha língua-mãe, mas se houve ocasiões em que tive dificuldade de entender o que se estava a falar em outras regiões do Brasil, o que dirá em outro país.

É também Draghici, na sua dissertação apresentada à Faculdade de Letras, da Universidade de Lisboa, quem me ensina que fraseologia é o nome que a academia dá para expressões idiomáticas e é considerada uma subdisciplina na linguística e que as pesquisas sobre fraseologia tiveram como pioneiro o linguista francês de origem suíça Charles Bally, no século 19.

Quem nos oferece um trabalho delicioso de ser lido é Dicionário Aberto de Calão e Expressões Idiomáticas, de José João Almeida, professor na Escola de Engenharia da Universidade do Minho e investigador do Grupo de Especificação e Processamento de Linguagens do Centro Algoritmi, na mesma universidade. Por ser uma obra aberta, o dicionário “precisa desesperadamente da sua colaboração. Deve ser olhado não como um dicionário completo, mas como uma coleção amadora que tem contado com a colaboração de vários informantes a quem muito agradecemos”, como o autor explica sobre a obra que tem quatro mil verbetes.

Encontro várias páginas na internet com listas de expressões e seus significados, como o dicionário do professor da Universidade do Mindo. Mas são poucas as fontes sobre a origem delas. E continuo minha busca para tentar descobrir a origem das expressões idiomáticas, para aprender sobre a história e a cultura do país, berços de riqueza imaterial de uma terra.

Um bom exemplo é No tempo da Maria Cachucha. Logo que ouvi esta expressão gostei imenso da sonoridade do nome da mulher e deduzi que seria relacionada a coisas do arco da velha – esta expressão também usamos no Brasil. Tão prazeroso quanto o som da palavra é sua origem. A cachucha era uma dança espanhola a três tempos, em que o dançarino, acompanhado por castanholas, começava a dança num movimento moderado, que ia acelerando, até terminar num vivo volteio. Esta dança teve uma certa voga em França, quando uma célebre dançarina, Fanny Elssler, a dançou na Ópera de Paris. Em Portugal, no século 19 as pessoas dançavam ao som da popular cantiga Maria Cachucha, que era uma adaptação da cachucha espanhola, com uma letra recheada de gracejos.

As expressões idiomáticas também podem trazer para atualidade fatos históricos marcantes. A expressão Resvés Campo de Ourique, que significa por um triz, por muito pouco, à justa. A versão mais difundida diz que advém do terremoto de Lisboa, em novembro de 1755, que provocou um enorme maremoto que teria chegado perto da zona de Campo de Ourique que, por um triz, escapou da força brutal das águas.

Cai de amores por uma que aprendi recentemente: De Espanha, nem bom vento nem bom casamento. Imediatamente lembrei-me de The rain in Spain stays mainly in the plain, de um dos meus musicais favoritos: My fair lady, com a inigualável Audrey Hepburn no papel de Eliza Doolittle, uma simples vendedora de flores que é transformada na mais fina flor da sociedade londrina. A música é o ponto de viragem da estória, uma adaptação da peça Pigmaleão, do irônico escritor irlandês George Bernard Shaw.

De acordo com o site do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), no que diz respeito aos ventos, o adágio português refere-se ao fato de devido a Espanha ser continental e montanhosa, os ventos de leste, no inverno, serem frequentemente desagradáveis, no verão, o vento proveniente do Norte de África, chamado suão, chega a Portugal depois de atravessar o Sul de Espanha. “Por estas razões, os ventos de leste são mais secos e rigorosos que os ventos oceânicos”. Com relação às bodas, é devido “alguns casamentos mal-sucedidos entre as coroas de Espanha e Portugal, os quais, para este país, se traduziram em comprometer a independência política”.

A expressão idiomática é o título do livro da jornalista Virgínia López, correspondente do jornal El Mundo e da rádio Cadena SER, em Portugal. Espanhola casada com um português, em seu trabalho explora de forma bem-humorada o une e separa os dois países. Para o investigador e coordenador do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa, professor José Machado Pais, a rejeição ao casamento com os vizinhos ibéricos vai muito além das realezas lusa e espanhola: “o português medianamente galanteador desde cedo sentiu uma forte atração pelo perigo e, portanto, pelas espanholas. Ou seja, os amantes portugueses nunca se encontraram numa relação de verdade com o mito, mas de uso”.
Mais adiante, Pais informa-nos que, no século 19, era corrente a expressão “Ir às espanholas”, que “passou a ser a aspiração de todo o prezado e ufano português julgado entendido em questões de mulher”. Segundo ele, esta é a origem do adágio:

“Um dos mais afamados coios da prostituição clandestina da Lisboa boémia de finais do século XIX estava nas mãos de uma proxeneta espanhola, quarentona e redonda. Dizia-se descendente de uma das mais nobres famílias de Castela: fora rica, invejada, distinta, uma verdadeira elegante de rompe e rasga. Infelizmente, porém, as dissipações e a prematura morte do seu marido haviam-na reduzido àquela triste condição. Por isso viera de vergonha para Portugal. Às prostitutas que tinha a cargo tratava-as como sobrinhas. Os fregueses eram homens finos, pessoas de consideração, circunspectas e graves personagens: titulares, conselheiros, mandões), ricaços, nomes sonantes batidos na tagarelice encomiástica das gazetas. Aliás, a tiazinha ufanava-se:

– Os primeiros negócios da cidade, os destinos do País… tenho-os aqui! É só eu querer!… Não há hoje homem de importância que não seja nosso amigo — todos protectores de mis sobrinas.

O trabalho do professor Pais, “De Espanha nem bom vento nem bom casamento»: sobre o enigma sociológico de um provérbio português” pode se acedido aqui.

A minha favorita de Portugal é “estou-me nas tintas”, quando quero dizer que não ligo a mínima e pouco me importa – nos anos 2000 no Brasil, usou-se muito “não tô nem aí”. Nas minhas pesquisas para chegar à origem da expressão, descobri que uma banda de rock portuguesa tem uma música com este título. Infelizmente não encontrei nada que explique de onde vem a expressão. Que tintas seriam estas? Seria a tinta que sai das uvas, portanto, do tinto, já que o fabrico de vinho artesanal está no ADN dos portugueses?

Se alguém souber, por favor compartilhe comigo. Sou-lhe grata desde já.

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Laurisa Farias
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