Dia 6 de setembro, hoje, com o anoitecer, começam as celebrações do Rosh Hashanah, o Ano Novo Judaico, que vão até o dia 8. Rosh Hashanah significa literalmente cabeça do ano, em Hebraico. Isso não significa, no entanto, que dia 9 de setembro, “tudo volta ao normal” (o que quer que isso signifique, principalmente em tempos de Covid-19), como no dia 2 de janeiro, no calendário gregoriano. São dez dias para nos aprofundarmos dentro nós mesmos e nos examinarmos. O processo chega a sua culminância com o Yom Kippur, o Dia do Perdão.
Pelo calendário gregoriano, o Ano Novo Judaico muda a cada ano, mas mantém-se o mesmo no calendário hebraico, que é lunar, baseado nas fases da lua, enquanto o calendário gregoriano é solar. Assim, o ano novo judaico é sempre no primeiro dia do mês de Tisherei – na verdade, o primeiro dia de cada mês do calendário hebreu é sempre o primeiro dia de Lua nova.
No dia 6 de setembro, vamos iniciar o ano 5782 porque Rosh Hashaná marca não o dia em que Deus criou o universo, mas, sim, a criação da alma de Adão e Eva. As observâncias de Rosh Hashaná incluem acendimento de velas à noite, refeições festivas com doces durante a noite e o dia, serviços de prece que incluem o toque do shofar (chifre de carneiro) nas duas manhãs.
Ao contrário do réveillon ocidental, a celebração do Ano Novo judaico é marcada pela introspeção e posterior reflexão sobre nós mesmos. Os judeus sefaraditas, da Península Ibérica, começam no mês que antecede o Rosh Hashanah, Elul, o precesso de auto-exame de suas ações e arrependimentos, pois além de marcar o início de um ano novo, o Rosh Hashanah é também o Dia de Julgamento, quando Deus avalia nossas ações e se nos presenteará com mais 365 dias. Daí o desejo de que sejamos inscritos no livro da vida. A saudação tradicional de Rosh Hashaná é “shaná tová”, que significa “bom ano”. A palavra u’metuka, “doce”, às vezes é acrescentada.
Depois do Ano Novo judaico temos o Yom Kippur, o Dia do Perdão, que terá início no pôr do sol do dia 15 de setembro e encerrará com o ocaso do dia 16. Este período temporal é chamado de Grandes Festas. O foco de todo esse período é o processo de teshuvá, ou arrependimento, por meio do qual um judeu admite pecados, pede perdão e decide não repetir os pecados. É também neste período que pedimos perdão àqueles que magoamos.
Mas, avisam nossos sábios, não pode ser um ato sem intenção – em um português mais coloquial: apenas da boca para fora. Não é nosso papel, no entanto, fazer a pessoa a quem pedimos perdão efetivamente nos perdoar. Minha obrigação é apenas ter um coração arrependido e manifestar meu sincero arrependimento. Se a outra pessoa não aceitar, não é problema nosso.
Como em todas celebrações, temos comidas especiais para a data – ou a ausência dela, na verdade, pois no Dia do Perdão jejua-se.
Os dois alimentos mais comumente utilizados como símbolo são maçã e mel. Seguimos a tradição de mergulhar um pedaço da fruta no mel e conclamar que Deus nos dê um ano novo bom e doce. Quando comemos a maçã mostramos nosso desejo de ter a devoção de Abraão e a coragem de Isaac, dois de nossos patriarcas. Devemos ainda comer chalá, um pão em formato circular, simbolizando algo cíclico, sem fim. Também comemos tâmaras e romãs, que simboliza os méritos e as virtudes que devem ser multiplicadas.
Como Rosh Hashanah significa literalmente cabeça do ano comemos cabeça de peixe e também porque peixe só se movimenta para frente, como devemos fazer e expressamos nosso desejo de ser “uma cabeça e não uma cauda”. Pode-se também comer cabeça de carneiro, em razão do shofar, mencionado acima.
Um dos rituais que mais me emocionam no Rosh Hashanah é o Tashlich, que literalmente significa jogar fora em Hebraico. Um pouco antes do por do sol do primeiro dia de Rosh Hashaná, dirigimo-nos a um local que tenha água corrente – margens de um rio, de um lago, uma praia, e recitamos nossas preces. Então, esvaziamos nossos bolsos para, simbolicamente, jogarmos fora as transgressões que cometemos no ano anterior – há quem jogue seixos ou migalhas de pão no curso d´água – e comprometemo-nos a melhorar no ano vindouro.
Meus votos de Shanah Tovah Umetukah! Um Ano Novo doce para nós e que sejamos todos inscritos no Livro da Vida no ano 5782!
Nota da direção: A autora escreve em português do Brasil.
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